Salve galera que está
curtindo o Blog Opinião do Véio! Aqui encerro a quarta e última parte da
história deste que foi um ícone para o rock brasileiro.
Raul teve muitos casamentos,
mas deve ter tido momentos felizes enquanto seus problemas não afetaram seus
relacionamentos. Por ter abusado do álcool e das drogas, o Maluco Beleza pagou
um preço alto por seus exageros.
Além de ter retirado metade
de seu pâncreas em 1979, Raul era diabético, usava insulina injetável, ou seja,
não poderia consumir bebidas alcoólicas de maneira nenhuma, principalmente
destiladas, que segundo os médicos, são as que vão matando aos poucos.
Mas cada um tem seus “infernos
particulares”, não podemos julgar ninguém (até porque não queremos ser
julgados). A trajetória de Raul chegou ao fim e seus últimos anos não foram
nada fáceis.
Em 1985, separou-se de Kika
Seixas. Fez um show em 01 de dezembro 1985, no Estádio Lauro Gomes, na cidade
de São Caetano do Sul. Só voltaria a pisar no palco no ano de 1988, ao lado de
Marcelo Nova. Conseguindo um contrato com uma gravadora pequena, a Copacabana,
em 1986 (de propriedade da EMI), gravou um disco que foi lançado somente no ano
seguinte, devido ao seu alcoolismo.
O disco Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! foi lançado
em março de 1987 pela gravadora Copacabana e gravado entre 24 de fevereiro e 29
de dezembro de 1986 no estúdio independente São Paulo, em São Paulo, e nos
estúdios da gravadora Copacabana, em São Bernardo do Campo. Este disco
significou a volta ao mercado fonográfico do cantor baiano após quase 3 anos do
lançamento de Metrô Linha 743, pela Som Livre.
A gravação transcorreu-se de
forma demorada devido aos problemas de saúde do cantor, que passou boa parte do
ano internado na Clínica Tobias, em São Paulo. Assim, os trabalhos
encerraram-se apenas no dia 29 de dezembro e a mixagem deu-se em 05 e 06 de
janeiro de 1987. O disco foi gravado praticamente ao vivo em estúdio, com
apenas a voz sendo adicionada posteriormente.
Raul teve a presença de seu
guitarrista Rick Ferreira na produção, já que as gravações das bases
transcorriam enquanto o cantor estava internado, e de apenas Rick e o
engenheiro de som na mixagem, com quase nenhuma interferência da gravadora. Sua
quinta e última mulher, Lena Coutinho, aparece em diversas parcerias, além de
ter ficado responsável pela parte gráfica da capa.
Capa do disco de 1987. |
O disco começa com uma
abertura jazzística e o grito primal do rock, imortalizado por Little Richard
em “Tutti Frutti”, juntamente com "Quando Acabar o Maluco Sou Eu",
com guitarras a lá Chuck Berry, um violão 12 cordas estilo The Byrds e uma letra divertidíssima. Segue-se o country rock de
banjo e violão de aço "Cowboy Fora da Lei", grande sucesso do disco,
com sua mistura de política e medo da idolatria.
"Paranóia II (Baby Baby
Baby)" é um rock meio surreal, meio jazzístico, mais para o rock dos anos
60. "I Am (Gîtâ)" é uma versão em língua inglesa para o seu maior
sucesso, cantada em um inglês shakespeariano e sem orquestras no arranjo, na
qual Raul aproveita para dizer coisas que seriam censuradas em português.
"Cambalache" é a
segunda versão do disco, de um tango de Enrique Santos Discépolo, e com um
arranjo "louco, superintuitivo, em três ritmos: a bateria fica no tango, o
baixo em blues e a guitarra em rock; todo quebrado". Continua com
"Loba", uma valsa rock que tem um tema característico do rock dos
anos 50: letra maliciosa e música ingênua.
"Canceriano sem Lar
(Clínica Tobias Blues)" é um blues típico com rock and roll, rhythm and
blues e gospel, composta sobre a rotina de Raul na clínica em que esteve
internado para tratar do alcoolismo. "Gente" é bem mais próxima do
rock estilo anos 80. "Cantar" é uma balada mais ou menos no estilo
Cliff Richard.
O álbum foi lançado em março
de 1987 e, devido principalmente ao sucesso de "Cowboy Fora da Lei" e
de "Quando Acabar o Maluco Sou Eu", vendeu mais de 100 mil das 250
mil cópias que foram editadas, rendendo ao cantor baiano o seu terceiro Disco
de Ouro e consolidando-se como o terceiro disco mais vendido da carreira de
Raul.
O disco teve três de suas
canções vetadas pela censura federal ("Não Quero mais Andar na
Contramão", "Check-up" e "Como o Diabo Gosta"), o que
fez com que Raul e a gravadora decidissem excluí-las do álbum. Elas seriam
lançadas no ano seguinte em um novo disco pela mesma gravadora, A
Pedra do Gênesis. "Cowboy Fora da Lei" fez parte da trilha
sonora da novela Brega & Chique e contou com a filmagem de um videoclipe
para o programa dominical da Rede Globo,
o Fantástico.
O álbum foi bem recebido
pela crítica, com uma aclamação unânime aos seus esforços. As críticas
elogiavam a concisa parte musical, gravada, praticamente, ao vivo em estúdio, e
a simplicidade e beleza dos arranjos, assim como no disco anterior, sem grandes
orquestrações e apostando em uma banda básica (guitarra, baixo e bateria) e em
letras que falavam dos problemas diários do cantor, internações, remédios e problemas
de saúde, ao invés de grandes problemas metafísicos. Continuava apostando na
imagem do "roqueiro clássico", em oposição a "essa moçada de
guitarra na mão, meio perdida" que formava o BRock dos anos oitenta.
A partir desse ano, estreitou
relações com Marcelo Nova, fazendo uma participação no disco Duplo
Sentido, da banda Camisa de Vênus.
Um ano mais tarde, 1988, já separado de Lena, fez seu último álbum solo, A
Pedra do Gênesis.
Lançado em 22 de agosto de
1988 pela gravadora Copacabana e
gravado entre 24 de fevereiro e agosto de 1988 no estúdio independente São
Paulo, em São Paulo, e nos estúdios da gravadora Copacabana, em São Bernardo do Campo. Este foi o último álbum solo
do cantor e o último pela pequena gravadora paulista. Representou uma última
tentativa de retornar ao personagem do místico e do profeta que marcaram a fase
de maior sucesso de público e crítica de sua carreira.
Capa do disco de 1988. |
Já bastante doente, Raul
Seixas lançou seu penúltimo disco, marcado por canções que soam como presságio
de uma despedida, como "Cavalos Calados", "Senhora Dona
Persona" e "Areia da Ampulheta".
O disco ainda traz
"Check Up" (uma nova versão para a música "Bruxa Amarela"
que foi lançada nos anos 70 por Rita Lee e sua banda no álbum Entradas e
Bandeiras), "A Lei" (onde Raul Seixas faz um discurso novamente
evocando a Sociedade Alternativa, enquanto o coro canta o refrão da música
homônima) e "Não Quero Mais Andar Na Contramão" (música em que Raul
afirma estar cansado de usar drogas, e mais conhecida na sua versão original,
gravada pelo ex-Beatle, Ringo Starr).
Algumas músicas, Raul fez em
parceria com sua última companheira, Lena Coutinho. Esse disco não obteve o
mesmo sucesso do anterior, Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! de
1987.
Marcelo Nova e Raul |
A convite de Marcelo Nova, fez
alguns shows em Salvador, após três anos sem pisar num palco. No ano de 1989, fez
uma turnê com Marcelo Nova, agora parceiro musical, totalizando 50
apresentações pelo Brasil. Durante os shows, Raul mostra-se debilitado. Tanto
que só participou de metade do show, a primeira metade é feita somente por
Marcelo Nova.
Último
Disco e Morte
As 50 apresentações pelo
Brasil resultaram naquele que seria o último disco lançado em vida por Raul
Seixas. O disco foi intitulado de A Panela do Diabo, que foi lançado
pela Warner Music Brasil no dia 22 de
agosto de 1989, um dia depois da morte de Raul.
A Panela do Diabo é o
décimo quinto e último álbum de estúdio de Raul Seixas e o segundo do cantor e
compositor Marcelo Nova, lançado em 19 de agosto de 1989 pela gravadora WEA, com gravações realizadas em maio de
1989 no Estúdio Vice Versa e
distribuição pela BMG Ariola.
O disco foi possível pela
aproximação progressiva entre Raul e Marcelo que começou a se intensificar a
partir de 1984 e viria a culminar em duas turnês conjuntas (Anestesia, de novembro de 1988 até maio
de 1989, e A Panela do Diabo, de 02
de junho até 13 de agosto de 1989) e este álbum.
Marcelo Nova e Raul, antes do lançamento do disco. |
Apesar do relativo sucesso
discográfico, Raul continuou afastado dos palcos após o fracasso de seu último
disco, Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!, de 1987. Isso só mudou quando
Raul teve uma nova crise de saúde e, durante um jantar com Marcelo em Salvador,
queixou-se da sua situação financeira que dificultava tratar de seus problemas
de saúde. Nova ofereceu a Raul a oportunidade de dividirem o palco, e o cachê,
do show que ele faria com sua banda no dia seguinte, na capital baiana.
Assim, em 18 de setembro de
1988, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, Raul voltava aos palcos,
acompanhado de seu amigo Marcelo Nova. O show foi um sucesso que se repetiu nas
outras duas apresentações de Marcelo no teatro naquele fim de semana. Assim,
Marcelo e Raul embarcaram em uma turnê celebratória da volta de Raul aos palcos,
batizada de Anestesia, que durou de
novembro de 1988 até maio de 1989, quando receberam convite de André Midani
para gravarem um álbum juntos e lançá-lo pela sua gravadora, a WEA.
As canções que viriam a
fazer parte do disco começaram a ser compostas por Marcelo e Raul ainda durante
a turnê Anestesia, já que, segundo
Marcelo, inconscientemente, eles acreditavam que fariam um disco mais cedo ou
mais tarde. Assim, quando o contrato de Raul com a Copacabana encerrou-se e veio o convite de Midani, eles puderam
"trancar-se em casa" e produzir a maioria das músicas.
Então, as gravações
transcorreram, de certo modo, rapidamente, no curso do mês de maio de 1989, no Estúdio Vice Versa, em São Paulo. Após o
disco estar gravado, veio o lançamento do primeiro single, "Carpinteiro do
Universo", e o início da turnê de divulgação, com shows no Olympia, em São
Paulo, entrevista no Jô Soares Onze e
Meia, e apresentação no Domingão do
Faustão, tudo em junho de 1989. Os músicos prometiam que o disco teria
muito rock e rhythm and blues.
Durante esta turnê, antes de
um show em Santa Bárbara d'Oeste, os músicos descobriram que um grupo de
religiosos evangélicos distribuía panfletos associando os dois ao diabo: aquela
foi a dica para a escolha do nome do disco. O álbum foi mixado no Estúdio nas Nuvens, de Liminha, no Rio
de Janeiro. A turnê acabou no dia 13 de agosto com um último show em Brasília,
no Ginásio Nilson Nelson. Seis dias depois, o álbum chegaria às lojas em todo o
Brasil.
Capa do disco de 1989, com Marcelo Nova. |
O álbum começa com uma versão
à cappella, e embriagada, de "Be-Bop-A-Lula", de Gene Vincent, um
clássico rockabilly dos anos 50. Em
seguida, o álbum traz o "rockão" autobiográfico "Rock 'n' Roll"
que explora histórias da vida de Raul e Marcelo e cita diversos artistas de rock and roll, como Little Richard e
Chuck Berry, além de comparar o artista nordestino de forró Genival Lacerda com
os pioneiros do rock Elvis Presley e Jerry Lee Lewis.
Depois, temos o single e grande sucesso do
disco, "Carpinteiro do Universo", uma balada
"country-caipira", mistura de música country com música sertaneja de raiz, que tem como temática a
impossibilidade de "arrumar o mundo" e de "tudo consertar"
e que foi considerada, por Luís Antônio Giron, como "uma das melhores
canções já realizadas no rock nacional", com sua melodia lenta e fácil e
sua letra lírica.
"Quando Eu Morri"
é um blues que tem a morte e o abuso de substâncias como temática: interessante
notar que esta temática aparece de modo manifesto apenas nesta composição de
Marcelo e em outra estrofe sua no rock
de abertura ("Por aí os sinos dobram e isso não é tão ruim / Pois se são
sinos da morte, eles ainda não bateram para mim / E até chegar a minha hora, Eu
vou com ele até o fim"). "Banquete de Lixo" é outra que também
fala sobre abuso de substâncias.
O lado B (estou falando de
LP de vinil, com dois lados) abre com o outro "rockão", "Pastor
João e a Igreja Invisível", que critica o "exercício da fé".
"Século XXI" é um amargo raio x "da depressão de fim de século
sem perspectiva". "Nuit" é a canção mais pesada do disco, a
única somente de Raul (e sua então esposa, Kika Seixas), e é uma espécie de
resumo de sua filosofia setentista, com um gosto amargo de derrota. Seu nome é
derivado de uma deusa egípcia e traz em um de seus versos uma referência velada
à morte através de uma citação de um trecho do capítulo "Morte", de As Dores do Mundo, de Schopenhauer.
"Best Seller" e "Cãibra no Pé" seguem a fórmula bem
sucedida dos country rocks do
restante do disco. "Você Roubou meu Videocassete" foi destacada nas
resenhas pela sua melodia considerada "feia".
O álbum foi lançado no dia
19 de agosto de 1989 em LP, Fita cassete e CD, pela gravadora WEA (distribuído pela BMG Ariola) e, dois dias depois, viria a
falecer, vítima de um ataque cardíaco, de madrugada, em seu apartamento, Raul
Seixas, aos 44 anos. Não se sabe se apenas por suas qualidades, ou se houve
alguma influência da morte de Seixas, mas o álbum vendeu mais de 150 mil cópias
em seu ano de lançamento, rendendo um disco de ouro a Raul e Marcelo, sendo que
o de Raul foi entregue a sua família.
De qualquer modo, o
lançamento acabou sendo ofuscado pelo trágico fim de um de seus autores e, ao
mesmo tempo, beneficiou-se da exposição massiva que Raul Seixas passou a ter em
toda a mídia nacional. Suas músicas voltaram a tocar no rádio e especiais sobre
sua carreira apareceram em jornais, revistas e na televisão.
A turnê de promoção do disco
(batizada, também, de A Panela do Diabo),
que começou em junho com show no Olympia, em São Paulo, e terminou com a última
apresentação da carreira de Raul no dia 13 de agosto no Ginásio Nilson Nelson,
em Brasília, foi um absoluto sucesso de público, apesar da “performance non sense”
de Seixas em cima do palco, e funcionou como uma espécie de turnê de despedida
para o músico veterano. A divulgação do álbum foi intensa em rádios, jornais e
televisão, além do lançamento de dois compactos: "Carpinteiro do
Universo" e "Pastor João e a Igreja Invisível".
Na manhã do dia 21 de
agosto, Raul Seixas foi encontrado morto sobre a cama, por volta das oito horas
da manhã em seu apartamento em São Paulo, vítima de uma parada cardíaca: seu
alcoolismo, agravado pelo fato de ser diabético, e por não ter tomado insulina
na noite anterior, causaram-lhe uma pancreatite aguda fulminante.
Raul foi velado pelo resto
do dia no Palácio das Convenções do Anhembi. No dia seguinte seu corpo foi
levado por via aérea até Salvador e sepultado às 17 horas, no Cemitério Jardim
da Saudade.
O álbum foi extremamente bem
recebido pela crítica especializada na época de seu lançamento. De fato, assim
como em relação às vendagens, não se sabe o quanto a morte de Raul Seixas
influenciou na crítica do disco. Entretanto, é de notar-se
que as críticas foram unanimemente favoráveis e, com o passar dos anos, quase
ninguém resolveu reavaliar o álbum.
Assim, o crítico Ayrton
Mugnaini Júnior, escrevendo para a revista Bizz,
avaliou favoravelmente o disco, elogiando o seu rock direto e comparando-o ao
supergrupo Traveling Wilburys.
Também, considera que Raul canta melhor que Marcelo no álbum, embora não deixe
de notar a desafinação geral da dupla, dizendo que ela se "encaixa
perfeitamente no espírito country rock de todo o LP".
Todos os críticos são
uníssonos nos elogios à simplicidade dos arranjos e à qualidade das letras que
combinam lirismo e críticas mordazes. Escrevendo para a Folha, Neufville avalia que o disco une a tradição à modernidade
para reafirmar uma ideia de rock
brasileiro: uma ideia que, simples e antiga, "associa o country norte-americano ao sertanejo, o blues à música caipira, tudo cimentado
pelas raízes do rock 'n' roll".
Lauro Lisboa Garcia,
escrevendo para o Estadão, elogiou a
acidez e ironia do álbum, dizendo que o disco era uma bordoada dos "feios,
sujos e malvados" Raul e Marcelo "na fuça dos pequineses do biônico
popinho brasileiro". Luís Antônio Giron, também para o Estado, elogiou a acidez, a ironia e o rock bem-humorado do disco. Ressaltou
que o disco tinha um gosto amargo de derrota e que vinha daí a sua grandeza:
ele "é o ataque que já se sabe derrotado pelos dobbermans do sistema" [...]
O álbum tornou-se cult com o passar dos anos, com
"Carpinteiro do Universo" e "Pastor João e a Igreja
Invisível" tornando-se clássicos do cancioneiro de Raul Seixas e, também,
de Marcelo Nova. Ainda hoje, Marcelo Nova toca canções do disco e, até, o álbum
completo em turnês comemorativas.
Por outro lado, o grande
legado do álbum foi o estabelecimento definitivo do lugar único de Raul Seixas
no panorama da música popular brasileira, em especial no rock brasileiro. Assim, o álbum e a sua turnê de divulgação,
permitiu a apresentação de Raul a uma nova geração, abrindo espaço para a
condição de ídolo que o músico baiano passaria a ostentar após a sua morte, com
a edição de diversas coletâneas e a reedição de seus discos clássicos.
A
morte de Raul Para os Fãs
O que vou postar aqui, é o
artigo de Gláucia Padilha, escrito para a Revista Contigo!:
“Há muito não se via uma
manifestação popular igual. Desesperados, os fãs de Raulzito mostraram toda a
dor no velório.
Contorcidos de dor e
desespero, milhares de fãs do "maluco" Raul Seixas prestaram sua
última homenagem ao rei do rock brasileiro. Cantando os grandes sucessos do
ídolo, uma multidão completamente transtornada beirou as raias da loucura.
Lágrimas, desmaios e gestos tresloucados: houve invasão do necrotério de Vila
Alpina (em São Paulo) e até tentativa de impedir que o corpo fosse sepultado em
Salvador.
A tragédia se abateu sobre
os fãs quando as rádios começaram a noticiar que Raul havia deixado de criar às 05 horas da madrugada de segunda-feira por causa de uma parada cardíaca. Sem acreditar
na história, uma legião de jovens tomou as dependências do Hotel Aliança — onde
Raul vivia há dois anos — na esperança de encontrar Raulzito com vida e, como
sempre, rindo da situação.
Infelizmente o sonho dos fãs
não se concretizou. Seu corpo jazia numa das câmaras mortuárias do Crematório
de Vila Alpina. Quando a informação se espalhou, outra multidão se aglomerou na
frente do crematório e, num momento de desespero, invadiu o necrotério. Mas o
caixão do ídolo já tinha partido para o Palácio das Convenções do Anhembi, onde
encontrou milhares de "seguidores" do autor de "Metamorfose
Ambulante".
A noite foi longa e triste.
Mas ninguém arredou pé um instante do local onde descansava o baiano que ousou
e revolucionou o rock. Muitos — vestidos com camisetas de fãs-clubes do cantor
— sacaram o violão e entoaram as músicas de Raul. Essa multidão acompanhou o carro
do Corpo de Bombeiros que levou o caixão ao aeroporto para embarcá-lo num
jatinho em direção a Salvador. Na Bahia, as manifestações se repetiram com a
mesma intensidade. Só pararam quando os funcionários do Cemitério Jardim da
Saudade despejaram a última pá de terra sobre o caixão.”
Legado
Que Raul Deixou
Depois de sua morte, Raul
permaneceu entre as paradas de sucesso. Foram produzidos vários álbuns
póstumos, como O Baú do Raul (1992), Raul Vivo (1993 - Eldorado), Se o
Rádio não Toca... (1994 - Eldorado) e Documento (1998).
Inúmeras coletâneas também foram lançadas, como Os Grandes Sucessos de Raul
Seixas de (1993), a grande maioria sem novidades, mas algumas com
músicas inéditas como As Profecias, com uma versão ao vivo
de "Rock das ‘Aranha’ " de 1991 e Anarkilópolis, com
"Cowboy Fora da Lei Nº2", de 2003.
Sua penúltima mulher, Kika,
já produziu um livro do cantor, O Baú do
Raul, baseado em escritos dos diários de Raul Seixas desde os seis anos de
idade até a sua morte. Em 2002, o cantor paraibano Zé Ramalho lançou o DVD Zé
Ramalho Canta Raul Seixas: Ao Vivo contando com algumas canções de Raul
no repertório.
Em 2004, o canal a cabo
Multishow promoveu um show especial de tributo a Raul, intitulado O Baú
do Raul: Uma Homenagem a Raul Seixas. O show, gravado na Fundição
Progresso (Rio de Janeiro) e lançado em CD e DVD, contou com artistas como Toni
Garrido, CPM 22, Marcelo D2, Gabriel o Pensador, Arnaldo Brandão, Raimundos,
Nasi, Caetano Veloso, Pitty e Marcelo Nova (os três últimos baianos, como
Raul).
Mesmo depois de sua morte,
Raul Seixas continua fazendo sucesso entre novas gerações. Vinte anos depois de
sua morte, o produtor musical Mazzola, amigo pessoal de Raul, divulgou a canção
inédita "Gospel", censurada na década de 1970. A canção foi incluída
na trilha sonora da telenovela Viver a Vida, da Rede Globo.
Em 2013, o cantor americano
Bruce Springsteen cantou "Sociedade Alternativa" na abertura de seu
show no Rock in Rio 2013. Em junho de 2014, a Rede Record definiu a música
"Tente outra vez", como tema de abertura da novela Vitória. Em 2015,
a gravadora Som Livre lançou o DVD e em formato CD O Baú do Raul – 25 Anos Sem Raul
Seixas, gravado em agosto de 2014 na Fundição Progresso no mês em que
se completaram exatos 25 anos da morte do cantor e que contou com a
participação dos seus sucessos nas vozes de Jerry Adriani, Nação Zumbi, Baía,
Ana Cañas, Zeca Baleiro, Marcelo Nova, Marcelo Jeneci, Digão, Tico Santa Cruz,
Cachorro Grande, entre outros, além da presença da banda original do músico, Os Panteras.
Curiosidade:
Vivian, sua filha do casamento com Kika, ou Vivi como é conhecida no meio
musical, hoje é DJ. e lançou vários remixes de seu pai em estilo eletrônico.
Raul toca até nas pistas eletrônicas desse planeta que insiste em não parar.
Bem galera, aqui encerro a
história desse que foi o “pai do rock”, o criativo e carimbador maluco da
música contemporânea brasileira. Não querendo comparar, mas fazendo um paralelo
com artistas bem diferentes: Raul Seixas e Vincent van Gogh.
Cada um em, sua área,
buscava a perfeição. Quando não satisfeitos com o rumo tomado por suas
carreiras, Raul entrou em depressão e enveredou para o caminho do álcool e das
drogas, Vincent enlouqueceu e cortou sua orelha.
Porque a comparação: Raul
fez sucesso enquanto estava vivo, mas muito mais sucesso depois que morreu.
Vincent van Gogh não vendeu quadro algum enquanto estava vivo. Depois que
morreu, virou uma referência, e seus quadros hipervalorizaram.
Ambos eram mestres naquilo
que faziam, mas só foram verdadeiramente reconhecidos depois que não estavam
mais aqui para desfrutar do sucesso estrondoso que suas obras alcançaram depois
de suas mortes. Justiça à parte, comparei os dois porque gosto do trabalho de
ambos, cada um a seu estilo, cada um com seus problemas.
E VIVA A SOCIEDADE
ALTERNATIVA, VIVA! VIVAAA!!!
Fiquem com mais de Raul
Seixas em:
Nenhum comentário:
Postar um comentário