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sexta-feira, 28 de abril de 2017

RAUL SEIXAS: DE RAUZITO A MALUCO BELEZA - TERCEIRA PARTE


Olá galera que curte o Blog Opinião do Véio! É uma satisfação tê-los aqui novamente, acompanhando a terceira parte da história deste que é uma das figuras mais importantes do rock brasileiro.

Eu estava pesquisando para o Blog e fiquei surpreso com a notícia que está no último parágrafo antes de minha despedida, na segunda parte. Como a censura não permitia que soubéssemos de tudo, alguma coisa passou em branco.

Embora eu já fosse adolescente nessa época, e já fazia papel de “DJ”. com o toca discos de meu futuro cunhado nas festas da empresa em que ele conheceu minha irmã, eu jamais lembraria de ter ouvido essa notícia, por isso separei o final da segunda parte, para explicar melhor agora.



Época Conturbada

“Quando o Raul saiu da Philips, estava mal. O contratei para a Warner e todo mundo foi contra”, diz o produtor Marco Mazzola, que comprou um apartamento para Raul na época. “Vi que não podia fazer mais nada quando o levei para mostrar a casa nova e ele estava mais interessado em fazer carreiras de cocaína. O Raul era um cara careta, mas se deixou levar por essa coisa de ver disco voador. Ele confiou demais no Paulo Coelho. Eu falava para ele pôr o pé no chão.”

Mazzola se esmerou no LP, convidando o guitarrista americano de jazz Lee Ritenour para solar em ‘Maluco Beleza’ e Gilberto Gil para arranjar ‘Que Luz É Essa?’. “O Raul achava que Caetano Veloso e Gilberto Gil não gostavam dele. E hoje a gente vê Caetano falando bem dele, mas na época não era assim!”, lembra o produtor.

Kika Seixas, que viria a ser mulher de Raul, trabalhava no departamento de imprensa da Warner, disse: “O Elvis Presley andava com a ‘máfia de Memphis’, uma rapaziada estranha. E Raul cismou que era como ele, e fazia o mesmo. Quem cuidava das contas dele, inclusive Imposto de Renda, era um motorista!”, espanta-se Kika.

Raul e Kika.


Mata Virgem (1978), no qual retomava a parceria com Paulo Coelho, teve um quase-hit, ‘Judas’. “Por causa da retirada de parte do pâncreas, Raul precisou parar de beber. Isso o deixou deprimido e ele passou a faltar a compromissos”, relata Kika. “Um dia, precisei ligar para o Raul para chamá-lo para o estúdio, e a pessoa que atendeu, que morava com ele, disse que não o via há dias nem sabia se ia poder dar o recado”, recorda ela.

“Naquela época, a Warner foi para terceiro lugar nas paradas e eu comecei a ter outras funções lá dentro”, lembra Mazzola. “Me vi completamente sem forças para ajudar o Raul, um grande talento. Mas ele não queria ser ajudado.”

Por Quem Os Sinos Dobram, último álbum da fase, saiu em 1979 e trazia Raul compondo ao lado do amigo argentino Oscar Rasmussen, com quem dividia apartamento. É tido por fãs como seu álbum mais fraco. Raul costumava agregar a seu redor os tipos mais estranhos e sombrios, numa versão tropical da “máfia de Memphis” que acompanhava Elvis Presley.

Em 1979, ele teve a inacreditável ideia de contratar uma equipe de caratecas argentinos como seguranças. Tanto ele e Oscar quanto os seguranças varavam as noites em festas regadas a álcool e drogas das mais variadas. Numa transação obscura entre os caratecas e traficantes, o faixa preta Hugo Amorrotu foi assassinado a tiros, dentro do apartamento de Raul, num evento que demonstra o grau de descontrole que sua vida havia tomado. “Foi o ápice de uma fase de total desligamento do amor à vida”, lamenta Mazzola.

Anos 1980: Altos e Baixos

Em 1980, assina novamente contrato com a CBS (desta vez como cantor) lançando mais um álbum, Abre-te Sésamo, que contém alguns sucessos.

O disco fez algum sucesso na época, com as músicas "Aluga-se" e 'Rock das Aranha" e vendeu razoavelmente bem. Contudo, ambas as músicas foram censuradas. "Aluga-se" era uma forte crítica sobre a relação do governo brasileiro com outros países, principalmente Estados Unidos. Já "Rock das 'Aranha’", foi censurada devido à sua letra, sexualmente explícita.

Capa do disco de 1980.

Raul chegou a declarar anos mais tarde que a canção é um plágio de "Killer Diller" do cantor Jimmy Breedlove. A música "Angela" foi feita em homenagem à companheira de Raul, Kika Seixas. O disco também inclui uma música de seu pai, Raul Varella Seixas, "Minha Viola".

Em 1981, nasce a terceira filha, Vivian, fruto de seu casamento com Kika.

Logo após o lançamento de Abre-te Sésamo, em 1980, a Discos CBS passaria por uma mudança em sua diretoria o que ocasionou em uma piora nas relações com o músico. Assim, o novo disco seria muito mal divulgado e pessimamente distribuído, o que incomodou o cantor baiano. A gota d'água veio em meados do ano seguinte, com a proposta da diretoria para que Raul gravasse um disco em homenagem ao casamento do príncipe Charles com a princesa Diana: o cantor pediu demissão.

Com isso, Raul enfrentou grandes problemas para a continuidade de sua carreira, como a dificuldade para marcar shows. Esses problemas levavam o cantor a abusar do álcool e das drogas, levando a um círculo vicioso de abusos e dificuldades para trabalhar. Assim, apesar de conseguir alguns públicos significativos, como as 180 mil pessoas no Festival de Verão de Santos, na praia do Gonzaga, em fevereiro de 1982, em bons shows, às vezes o cantor passava por situações difíceis.


Um episódio que ilustra bem esse período é o show na cidade de Caieiras, em 15 de maio de 1982. Raul se dirigiu à cidade acompanhado de seu empresário e sete músicos, para encerrar uma Feira de Folclore local. Entretanto, chegando lá, o responsável pela programação impediu o início do show alegando que havia poucas pessoas no local (cerca de 300) e que os músicos deveriam aguardar a chegada de mais gente. Com isso, o show só iniciou-se após a meia-noite. Apesar de uma duração programada de 50 minutos, a apresentação durou apenas meia hora devido à animosidade do público.

Após o fim do show, policiais entraram no camarim e levaram o cantor sob a acusação de ser um impostor. Raul sofreu maus tratos e ficou detido na delegacia até às 5 horas do domingo, quando seu empresário conseguiu providenciar os seus documentos. As versões conflitantes sobre o fato não permitem saber, até hoje, se o cantor estava drogado ou alcoolizado.

Neste período, Raul tentou vender para diversas gravadoras o projeto de um disco chamado Nuit, uma opereta-rock que versaria sobre a deusa da noite na religião Thelema, composto em parceria com sua companheira na época, Kika Seixas, sem sucesso.


Apenas em janeiro de 1983, Raul recebeu um telefonema de João Lara Mesquita, diretor de uma pequena gravadora, a Eldorado, pertencente ao mesmo grupo que controlava o jornal O Estado de São Paulo, convidando-o para gravar um disco pela sua gravadora. Como Raul já havia sido recusado por todas as grandes gravadoras multinacionais que atuavam no Brasil, tendo até ouvido de um executivo que ele estava "vacinado contra Raul Seixas", a proposta foi aceita na hora.

As canções do disco foram compostas durante o período de dois anos em que Raul esteve sem gravadora, diversas delas fazendo parte do projeto inacabado de um disco independente, Nuit. Com o contrato da Eldorado, Raul separou diversas canções que tinha composto (algumas parte do projeto não terminado e outras com temática distinta) e entrou nos estúdios da gravadora, em São Paulo, já em janeiro, para gravar o disco, com produção de seu pianista e maestro, Miguel Cidras.

Em fevereiro, o trabalho em estúdio foi finalizado, juntou-se um cover de Arthur Crudup gravado ao vivo em 26 de fevereiro de 1983, em show na Sociedade Esportiva Palmeiras, e o disco passou os meses seguintes em pós-produção. Próximo da data de lançamento, Raul foi convidado por Augusto César Vannucci, diretor da Rede Globo, para interpretar um personagem no especial infantil Plunct, Plact, Zuuum. O cantor compôs uma canção inspirado por sua filha com Kika, Vivian, que tinha dois anos.

Raul como o Carimbador Maluco.

Ao ficar sabendo da participação de Raul no especial, que seria exibido em 03 de junho de 1983, a Eldorado quis incluir aquela música no disco. Como a primeira tiragem já estava pronta, foi feito um compacto às pressas para ser distribuído (em forma de encarte)  juntamente com o disco. Nas tiragens seguintes, bem como no relançamento em CD, a canção já figuraria como a sétima faixa no disco.

O álbum começa com "D.D.I. (Discagem Direta Interestelar)", um "puro Raul Seixas de boa safra" em que Deus reclama com os homens pelas besteiras que estão fazendo e estariam comprometendo a Sua "reputação". "Não Fosse o Cabral" é uma versão para "Slippin' and Slidin'" de Little Richard que quase foi censurada. Wanderléa divide os vocais com Raul na faixa "Quero Mais", uma mistura de reggae, baião e xaxado. "Segredo da Luz" (remanescente de Nuit) foi considerada a balada mais bonita do disco, na qual homens e mulheres brilham como estrelas.


"Eu Sou Eu, Nicuri É o Diabo" é uma canção defendida pelos Os Lobos no VII Festival Internacional da Canção e que "conserva uma deliciosa ingenuidade em suas brincadeiras com sílabas". "Capim Guiné" é uma moda sertaneja composta por Raul em parceria com Wilson Aragão. "Babilina" é uma versão de "Bop-a-Lena", de Ronnie Self, com letra "pornô-kitsch". A última canção é um belo tributo à Arthur "Big Boy" Crudup gravada ao vivo em um show no ginásio da Sociedade Esportiva Palmeiras em 26 de fevereiro de 1983, que Raul canta com a "energia de um adolescente".

Raul Seixas, também conhecido como Carimbador Maluco, foi o décimo primeiro álbum de estúdio de Raul, lançado em 26 de abril de 1983 pela gravadora Eldorado (distribuído nacionalmente pela EMI-Odeon) e, bem divulgado e distribuído, vendeu mais de 100 mil cópias, rendendo o segundo disco de ouro da carreira de Raul. O disco teve três canções inicialmente vetadas pela censura ("Quero Mais", "Babilina" e "Não Fosse o Cabral"), mas, após explicações, elas acabaram sendo liberadas.

A divulgação acabou se beneficiando do lançamento do musical infantil da Globo que trazia "Carimbador Maluco" como uma das principais faixas e a participação de Raul cantando a música caracterizado como o personagem título. Em dezembro, Raul apresentou-se, inclusive, no especial de Natal da emissora, no estádio do Maracanã, em companhia da Turma do Balão Mágico e dos Trapalhões, cantando esta canção. Além disso, a canção “Coração Noturno” fez parte da trilha sonora da novela Louco Amor.

Capa do disco de 1983.

O álbum foi bem recebido pela crítica na época de seu lançamento, especialmente por significar a volta de Raul Seixas após quase três anos sem lançamentos discográficos e poucos shows realizados no período. As apresentações de Raul vinham recebendo bons públicos e seu "marketing pessoal" de uma nova fase mais família, longe do álcool e das drogas, com Kika Seixas e sua filha pequena sempre presentes nas entrevistas concedidas, parecia surtir efeito em gerar mídia positiva.

Essa mudança na carreira foi bem sucedida, inicialmente, com a mudança de cidade (Rio de Janeiro para São Paulo) e uma nova postura: não mais a imagem de profeta, mas uma tentativa progressiva de apresentar-se como um roqueiro clássico e, ao mesmo tempo, como uma espécie de antagonista em relação aos artistas que começavam a ficar famosos pelo "novo rock" que se fazia no Brasil. Assim, Raul respaldava-se cada vez mais no nome "Raul Seixas" e na postura de representante do "verdadeiro rock", do qual os novos grupos seriam mero "pastiche".


O disco representa o início da última fase da carreira de Raul, com a mudança pra São Paulo, as dificuldades para manter a carreira, a luta contra os seus demônios internos (álcool e drogas) e os problemas de saúde (especialmente, a pancreatite crônica causada pelo alcoolismo) e a mudança na autoimagem. O cantor tentava se estabelecer como um representante do "verdadeiro rock", em oposição ao "BRock" que surgia naquela época.

Ao mesmo tempo, buscava desvincular-se da imagem de "profeta" que tanto sucesso tinha trazido para ele na década anterior. Entretanto, a sua "fase família" não duraria muito: a volta do álcool e das drogas levaria Raul a se separar de sua mulher, Kika Seixas, e, eventualmente, a parar de apresentar-se ao vivo por um longo período. Hoje, o disco é visto como um dos últimos lampejos da carreira de Raul Seixas.

Em 1984, grava o LP Metrô Linha 743 pela gravadora Som Livre, com a maior parte das composições em parceria com sua companheira Kika Seixas e uma das faixas, “Mas I Love You (Pra Ser Feliz)”, em parceria com seu guitarrista Rick Ferreira, que teve participação em todos os discos de Raul, a partir de Gita.

Lançado em julho de 1984, Metrô Linha 743, pela gravadora Som Livre, com gravações realizadas entre janeiro e abril de 1984 nos Estúdios Sigla, em São Paulo e no Rio de Janeiro. O disco representou a volta do cantor baiano a uma grande gravadora, após ter lançado Raul Seixas, no ano anterior, com grande sucesso de público e crítica, pelo pequeno selo paulista Gravadora Eldorado.

Capa do disco de 1984.

As canções tinham começado a ser compostas logo após a finalização do trabalho anterior e estavam praticamente prontas quando os trabalhos em estúdio começaram. A demora de quatro meses para realizar o disco foi motivo de cobranças da gravadora, bem como o custo total do álbum (muito caro para a época).

O cantor justificou o valor e a demora dizendo que foi difícil conseguir a simplicidade que ele queria nos arranjos e no disco. Assim, paradoxalmente, o álbum ficou simples e caro. Outro problema que o cantor experimentou e que impactou na demora da produção foi a não liberação da canção "Mamãe Eu Não Queria", vetada pela censura para execução pública (shows e reprodução no rádio ou na TV), mesmo após recurso da gravadora.

Raul assumiu não só a concepção musical, como também a visual. Em entrevistas, o cantor dizia que buscou um álbum conceitual, não só nas faixas musicais, mas também no projeto gráfico do disco (todo em preto e branco), o que remeteria não só a Alfred Hitchcock, como também aos anos 50. Por isso, a escolha de fotos em preto e branco de diversos momentos da carreira de Raul (cedidas pelo seu fã-clube Raul Rock Club) para adornar o encarte. Além do mais, o título remetia ao ano em que Raul sofreu com a censura e foi convidado a sair do país, 1974. E o próprio ano de lançamento do álbum, bem como a letra da canção título, fazia referência à obra de George Orwell, Nineteen Eighty-Four.


Novamente, assim, participou do musical infantil da Rede Globo que ocorreu em março daquele ano, com a música "A Geração da Luz", que fez parte da trilha sonora de Plunct, Plact, Zuuum... 2, sequência do musical de sucesso do ano anterior (que também contava com uma canção de Raul Seixas) sem, entretanto, repetir o sucesso.

Continuava, também, a apresentar-se como um "roqueiro clássico" em oposição aos artistas do novo rock brasileiro, o BRock. Assim, fazia gozações com o que via como a falsidade de tais grupos e a sua natureza midiática, negando a existência de um verdadeiro "movimento de rock". Raul seria, assim, um representante do "verdadeiro rock" que não se deixava dobrar pelas novas modas, como a new wave.

O disco foi lançado em julho de 1984 pela Som Livre, mas, apesar da quantidade de dinheiro investida e da qualidade do trabalho, as vendas decepcionaram o cantor e a gravadora. O cantor atribui as dificuldades à falta de divulgação por parte da gravadora e ao lançamento concomitante de Ao Vivo - Único e Exclusivo por sua antiga gravadora, a Gravadora Eldorado. O artista alegava que a sua gravadora não lançou nenhum compacto para promover o disco e que não quis gravar um clipe musical, segundo as suas intenções. Também, responsabilizava a Eldorado por ter lançado um disco ao vivo no mesmo mês em que saiu o seu álbum de estúdio pela gravadora carioca.

A capa do disco que a Eldorado lançou junto com o da Som Livre.

O disco foi bem recebido pela crítica especializada, mas as suas vendagens (por diversas razões) ficaram aquém das expectativas do artista e da gravadora, levando ao término do seu contrato. Com as dificuldades para agenciar shows que Raul passou a experimentar com o agravamento de sua doença e dos seus problemas com álcool e drogas, ele pararia completamente de fazer shows em dezembro de 1985, ficando em uma espécie de ostracismo.


Uma curiosidade comentada por um youtuber, ao observar recentemente sobre o lançamento em inglês de “Gita”, “I Am”, de 1984: " Quando Raul ganhou seu primeiro Disco de Ouro com "Gita", em 1974, as pessoas imaginavam que com a afirmação "eu sou", contida na música, Raul referia-se a ele mesmo e acorriam a seus shows esperando que ele pudesse fazer milagres, como um verdadeiro Messias. Na verdade, a música se refere ao princípio criador do universo, que a tudo comanda”.


Bem galera, por aqui encerro esta que é a terceira parte sobre a história do Carimbador Maluco, Raul Seixas.

De maluco beleza a consumidor de drogas, de pai de família a caso de polícia, Raul realmente teve muitos altos e baixos e seu estado de saúde só agravou sua situação, pois nem fazer shows estava conseguindo fazer mais, o que deveria ser seu “ganha pão”.

Falar de Raul Seixas sem falar em muitas esposas, drogas e rock and roll, seria clichê demais. Sua vida foi uma mistura explosiva de misticismo, muito álcool e muita insensatez. Não tenho minha vida certinha, mas não faço nada parecido com meus ídolos. Sou careta por natureza, não condeno ninguém, mas sei ser feliz sem precisar de subterfúgios. A música é a minha droga, e basta!!


Fiquem com mais de Raul “Maluco Beleza” Seixas em:



















































quarta-feira, 26 de abril de 2017

RAUL SEIXAS: DE RAULZITO A MALUCO BELEZA - SEGUNDA PARTE


Salve galera que está curtindo o blog Opinião do Véio! Esta é a segunda parte da história do Maluco Beleza, Raul Seixas.

Roqueiro por paixão, místico por natureza, Raul escreveu letras que incomodaram muito durante o tempo da Ditadura Militar. Sofreu por causa dela, mas não se abalou e tocou seus projetos adiante, driblando sutilmente, aquela que seria sua mais forte oponente: a censura.



Outro projeto mal sucedido foi o LP Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, lançado em 1971, com a parceria de Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Edy Star, onde Raul Seixas deu inicio a produção de um projeto de ópera-rock, tendo as letras mutiladas pela censura do Regime Militar.

O Sociedade Grã Ordem Kavernista era um disco anárquico, inspirado em Frank Zappa e o então cultuado disco Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band dos Beatles misturado a elementos brasileiros, como samba, chorinho, baião. Quando lançado, o disco não obteve sucesso de público e nem de crítica. Foi abandonado à própria sorte até mesmo pela gravadora, cujos executivos tanto no Brasil como na matriz, nos Estados Unidos não gostaram do resultado final. Com isso, não houve investimento em divulgação do trabalho nas rádios e programas musicais da época.

Capa do disco de 1971, do grupo que não vingou.

Muitas lendas cercam esse disco que traz 11 faixas intercaladas por vinhetas. A principal delas diz que Raul, Sérgio, Edy e Míriam gravaram as músicas às escondidas, à noite, sem que ninguém na CBS soubesse e que por esse motivo, Raul Seixas, então um bem-sucedido produtor da gravadora, teria sido demitido. No entanto, segundo Edy Star, único sobrevivente dos quatro artistas, o trabalho foi profissional e feito com o conhecimento da gravadora. E Raul não foi demitido. Tanto que no ano seguinte, em 1972, produziu o compacto Diabo no Corpo, de Míriam Batucada, e o LP de estreia da cantora Diana, na própria CBS. Raul só saiu da gravadora meses depois desse último trabalho, sendo contratado pela RCA Victor.

Anos 1970: Auge e Repercussão Nacional

Em 1972, Raul Seixas decidiu participar do Festival Internacional da Canção, onde foi convencido por Sérgio Sampaio. O cantor compôs duas músicas, "Let Me Sing, Let Me Sing", defendida pelo próprio Raul e "Eu Sou Eu e Nicuri é o Diabo", defendida por Lena Rios & Os Lobos. Ambas chegaram à final, obtendo sucesso de critica e de público. Rapidamente, Raul foi contratado pela gravadora Philips. Na época, ele também se interessou por um artigo sobre extraterrestres publicado na revista A Pomba e tem o seu primeiro contato com o escritor Paulo Coelho, que mais tarde, se tornaria seu parceiro musical.

No ano de 1973, Raul consegue um grande sucesso com a música "Ouro de Tolo" no álbum Krig-ha, Bandolo!, o primeiro álbum solo do cantor e compositor, gravado e lançado pela Philips (atual Universal Music) em 21 de julho de 1973. A música possui uma letra quase autobiográfica, mas que também debocha da Ditadura e do "Milagre Econômico". O título Krig-ha, Bandolo! faz referência a um grito de guerra do personagem Tarzan, conhecido à época nas revistas em quadrinhos.

Capa do disco de 1973.

O mesmo LP, continha outras músicas que se tornaram grandes sucessos, como: "Metamorfose Ambulante", "Mosca na Sopa" e "Al Capone". Raul Seixas finalmente alcança grande repercussão nacional, graças a divulgação da imagem do cantor como ícone popular. Porém, logo a imprensa e os fãs da época, foram aos poucos percebendo que Raul não era apenas um cantor e compositor.

O álbum inicia com uma gravação de Raul cantando "Good Rockin' Tonight" aos nove anos de idade, e também foi o primeiro de Raul, em parceria com o escritor Paulo Coelho.

Ainda em 1973, Raul resolveu homenagear algumas músicas clássicas do rock americano e brasileiro no disco Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock.

Raul sustentava que o real rock 'n' roll tinha acabado em 1959, com a ida de Elvis Presley para o exército. Em 1973, resolveu homenagear o que julgava ser o "rock verdadeiro" e dispôs-se a regravar uma seleção de sucessos do gênero, pinçados entre clássicos americanos de Little Richard, Carl Perkins, Ronnie Self, The Platters, Neil Sedaka, e brasileiros como Eduardo Araújo, Celly Campello, Roberto e Erasmo Carlos

Capa original do disco, também de 1973.

Raul foi, no entanto, proibido pela gravadora de assinar seu nome no disco de covers, pois ela achou que o álbum poderia prejudicar as vendas de Krig-ha, Bandolo!. A solução foi creditar o álbum a uma certa banda chamada Rock Generation, com o nome de Raul presente apenas na contracapa, como diretor de produção.

O álbum não teve qualquer tipo de divulgação e acabou inicialmente sendo esquecido nas lojas, porém com os sucessos posteriores de Raul, alcançando grandes vendagens, a gravadora Philips acabou por divulgar melhor o trabalho.

Capa do mesmo disco acima, de 1975, que Raul não gostou.

Em 1975, o álbum reapareceu no mercado em nova versão: tinha uma nova capa (um retrato de Raul assinado por Luiz Trimano), um novo título (20 Anos de Rock), uma ordem de faixas diferente e alguns aplausos e assobios entre as faixas para dar a impressão de que o disco era ao vivo. As alterações não agradaram Raul.

Houve outro relançamento em 1985, desta vez intitulado 30 Anos de Rock. No release que acompanha este novo relançamento, o jornalista Ayrton Mugnaini brinca: "Aguardem a edição intitulada 10 Mil Anos de Rock."

A MZA Music relançou o álbum em 2001, sob a direção de Mazzola. Segundo ele, essa reedição foi a forma exata que Raul Seixas concebera em 1973.

No ano de 1974, Raul Seixas e Paulo Coelho criaram a Sociedade Alternativa, uma sociedade baseada nos preceitos do bruxo inglês Aleister Crowley, praticamente repetindo o chamado Livro da Lei. O cantor foi levado pelo escritor a conhecer uma ordem filosófica baseada na Lei de Thelema, desenvolvida por Crowley.

A Sociedade Alternativa, com sede alugada, papel timbrado e relatórios mensais, chegou a anunciar a aquisição de um terreno em Minas Gerais, para a construção da Cidade das Estrelas, uma comunidade onde a única lei era: “Faz o que tu queres, há de ser tudo da lei.” Em todos os seus shows, Raul divulgava a Sociedade Alternativa com a música de mesmo nome.

Paulo Coelho e Raul, na Sociedade Alternativa.

A obsessão de Raul Seixas e Paulo Coelho em construir “uma verdadeira civilização thelêmica”, evidentemente, trouxe problemas com a Censura. A letra da música "Como Vovó já Dizia" composta pelos dois, teve de ser mudada. Logo no show de lançamento, a polícia apreendeu o gibi/manifesto "A Fundação de Krig-Ha" e o queimou como material subversivo. A Ditadura, então, através do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) prendeu Raul e Paulo, pensando que a Sociedade Alternativa fosse um movimento armado contra o governo.

"Veio uma ordem de prisão do Exército e me detiveram no Aterro do Flamengo. Me levaram para um lugar que não sei onde era. Imagine a situação: estava nu, com uma carapuça preta. E veio de lá mil barbaridades”. (Eu li essa entrevista. Segundo o próprio Raul, em entrevista nos anos 80 para a revista abaixo, ele recebeu choque elétrico nos testículos, para confessar algo que não fez). “Tudo para eu dizer os nomes de quem fazia parte da Sociedade Alternativa, que, segundo eles, era um movimento revolucionário contra o governo. O que não era. Era uma coisa mais espiritual. Preferiria dizer que tinha pacto com o demônio a dizer que tinha parte com a revolução. Então foi isso, me escoltaram até o aeroporto." — Raul Seixas sobre o exílio ocorrido em 1974, em uma entrevista publicada na revista Bizz, em março de 1987.

Depois de torturados, Raul e Paulo foram exilados para os Estados Unidos, com suas respectivas esposas, Edith Wisner e Adalgisa Rios. Muitas histórias são contadas sobre a estadia de Raul Seixas nos Estados Unidos, como seu encontro com John Lennon, mas ninguém sabe ao certo se são verdadeiras.

No entanto, o LP Gita gravado poucos meses antes faz tanto sucesso, que forçou a Ditadura a trazê-los de volta para o Brasil. Gita é o álbum de maior sucesso da carreira de Raul Seixas, com 600 mil cópias vendidas, rendendo ao cantor seu primeiro Disco de Ouro. Recém-chegado do exílio, Raul posa para a capa do disco vestido de guerrilheiro com uma guitarra vermelha, numa provocação a Ditadura Militar, que o forçou a viver nos Estados Unidos.

Capa do disco de 1974.

Acompanhado de Paulo Coelho, Raul compôs no álbum alguns de seus grandes sucessos, como "Gita" (inspirada num livro sagrado hindu com mais de 6.000 anos, o Bhagavad Gita), "Sociedade Alternativa" (inspirada na obra de Aleister Crowley) e "Medo da Chuva", além de canções que contam apenas com sua autoria, como "O Trem das 7" e "S.O.S.".

Em meio à gravação de Gita, Raul Seixas e Paulo Coelho foram convidados a compor a trilha sonora da novela da Rede Globo de televisão O Rebu, também lançada em álbum de mesmo nome. Ainda neste ano, Raul separa-se de Edith, que vai para os Estados Unidos com a filha do casal, Simone.

Em 1975, Raul Seixas casa-se com Glória Vaquer, e grava o LP Novo Aeon, onde compôs junto com Paulo Coelho, uma de suas músicas mais conhecidas, "Tente Outra Vez", que seria creditada juntamente com Marcelo Motta, por quem eram discipulados na Astrum Argentum (AA).

Este álbum não alcançou o mesmo sucesso de Gita, sendo considerado um fracasso comercial, pois vendeu menos de 60 mil cópias. Apesar disso, canções como "Tente Outra Vez", "A Maçã", "Tú És o MDC da Minha Vida" e "Eu Sou Egoísta" fazem de Novo Aeon, um dos discos mais célebres de Raul, e atualmente, um dos mais queridos pelos fãs.

Capa do disco de 1975.

Neste disco, surgem outros parceiros nas composições das músicas além de Paulo Coelho, como Cláudio Roberto e Marcelo Motta. Glória Vaquer, sua segunda esposa, assina a música em inglês "Sunseed", sob o pseudônimo de Spacey Glow.

Novo Aeon está incluído na lista da revista especializada Rolling Stone entre os 100 melhores discos da música brasileira ocupando a 53ª posição.

Ainda em 1975, Raul lê um manifesto e canta a Sociedade Alternativa no documentário Ritmo Alucinante, que foi um festival de rock realizado no Rio de Janeiro, gravado no álbum Hollywood Rock, lançado no mesmo ano. Em 1976, Raul supera a má-vendagem do disco Novo Aeon com o álbum Há 10 Mil Anos Atrás.

Raul Seixas lançou em Há 10 Mil Anos Atrás, algumas canções de temática mística como "Canto Para Minha Morte" e "Ave Maria da Rua". O disco traz alguns dos sucessos do cantor como "Meu Amigo Pedro", "Eu Também Vou Reclamar", além da faixa-título que dá nome ao disco. Também traz uma segunda versão da música "As Minas do Rei Salomão", que aparece no álbum Krig-ha, Bandolo!.

Capa do disco de 1976.

Jay Vaquer, amigo e músico de Raul, além de irmão de sua segunda mulher, Glória Vaquer, assina duas faixas do disco, que é quase todo creditado a Raul e Paulo Coelho. Neste mesmo ano, nasce sua segunda filha, Scarlet. Chega então ao fim, o seu contrato com a gravadora Philips e sua parceria com Paulo Coelho, que seria retomada em Mata Virgem, embora continuassem amigos (ou inimigos íntimos).

Jay Vaquer, ainda coletou material para fazer um novo disco, Raul Rock Seixas, que diziam ser um álbum feito de resto de gravações, mas na verdade a história era outra. Raul escolheu as músicas, e Jay começou a fazer os arranjos. Porém, antes de Raul Seixas e Jay terminarem de mixá-lo devido à suas ausências por causa dos shows, a Philips lançou o disco sem avisá-los, sob o selo da Fontana/Phonogram, mixando-o por conta própria. Segundo Jay, isso prejudicou o trabalho que ambos haviam planejado anteriormente, destruindo o LP, porque finalmente seu nome estava num LP de Raul como produtor, arranjador, e guitarrista, e seu trabalho foi muito mal representado.

Capa do disco de 1977.

Este álbum mantém a mesma fórmula do álbum Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock, lançado quatro anos antes, contendo interpretações de grandes sucessos do rock, com músicas de Chuck Berry, Paul Anka, Gene Vincent, Elvis Presley, Eddie Cochran e Little Richard. No final do álbum Raul fez um inusitado medley de “Asa Branca” com “Blue Moon Of Kentucky”.

Em 1977, nasce no Brasil uma nova gravadora, a WEA, subsidiária da Warner Bros., que se interessou em contratar Raul Seixas. Por volta deste período, intensificou-se a parceria com o amigo Cláudio Roberto, com quem Raul compôs várias de suas canções mais conhecidas. Juntos, realizaram o LP O Dia Em Que A Terra Parou. O disco traz um de seus maiores sucessos, "Maluco Beleza", além de outros, como "Sapato 36", "No Fundo do Quintal da Escola", "Que Luz É Essa?" (com participação de Gilberto Gil) e a canção que dá nome ao álbum.

Capa do disco, em gravadora nova, também de 1977.

No disco, há duas incursões pelo funk nas faixas "De Cabeça-pra-Baixo" e "Tapanacara" (acompanhado pela Banda Black Rio). O álbum fez sucesso de público, mas a crítica não gostou. Foi dito que não mantinha o mesmo nível dos trabalhos anteriores.

Naquele final de década as coisas começaram a ficar ruins para Raul. A partir do ano de 1978, começou a ter problemas de saúde devido ao alcoolismo lhe causando a perda de 1/3 do pâncreas. Raul passou alguns meses numa fazenda na Bahia, para se recuperar da pancreatite. Ele separou-se de Glória, que, assim como Edith, também voltou aos Estados Unidos, levando a filha Scarlet.

Neste ano, conheceu Tania Menna Barreto, com quem passou a viver. Lançou o LP Mata Virgem que contou com a volta de Paulo Coelho, porém, ambos chegaram a conclusão, de que essa parceria já não tinha mais como dar certo.

Capa do disco menos rock que Raul produziu, de 1978.

O disco foge um pouco do rock and roll característico do cantor, contando com ritmos como baião, forró e música caipira. Além disso, a má divulgação atrapalhou as vendas do disco e a crítica também não ajudou.

No ano de 1979, Raul separou-se de Tania. Começa então, a depressão de Raul Seixas junto com uma internação para tratar do alcoolismo. Conhece Angela Affonso Costa, a Kika Seixas, sua quarta companheira. Lançou seu último LP com a WEA, Por Quem Os Sinos Dobram, cujo título foi inspirado no filme homônimo baseado em livro de Ernest Hemingway, que trouxe alguns clássicos da obra de Raul Seixas, como "O Segredo do Universo", e a faixa título, "Por Quem Os Sinos Dobram". Raul assinou todas as músicas com um novo parceiro, o amigo argentino Oscar Rasmussen.

Capa do disco de 1979.

O álbum foi composto numa época conturbada da vida do cantor, depois do fim de seu segundo casamento, e após um episódio que lhe rendeu aparições nas páginas policiais, depois que um homem foi encontrado assassinado em seu apartamento. Este álbum, assim como o anterior, não fez muito sucesso na época. Por conta disso, Raul Seixas deixa a gravadora WEA e parte para a Discos CBS.


Bem galera que está acompanhando minhas postagens, por aqui encerro a segunda parte da história de Raul “Maluco Beleza” Seixas.

Maluco, místico, visionário, seja qual for o rótulo a ser dado a esse que foi o precursor do rock no Brasil, Raulzito foi pioneiro em sua jornada. Surpreendeu muitos com suas letras revolucionárias. Para os militares eram músicas malditas, para seus fãs, perfeitas obras-primas.


Fiquem com mais de Raul “Raulzito” Seixas em:




























































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