Salve galera que está
curtindo o blog Opinião do Véio! Esta é a segunda parte da história do Maluco
Beleza, Raul Seixas.
Roqueiro por paixão, místico
por natureza, Raul escreveu letras que incomodaram muito durante o tempo da
Ditadura Militar. Sofreu por causa dela, mas não se abalou e tocou seus
projetos adiante, driblando sutilmente, aquela que seria sua mais forte oponente:
a censura.
Outro projeto mal sucedido foi
o LP Sociedade
da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, lançado em 1971, com a
parceria de Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Edy Star, onde Raul Seixas deu
inicio a produção de um projeto de ópera-rock, tendo as letras mutiladas pela
censura do Regime Militar.
O Sociedade Grã Ordem Kavernista
era um disco anárquico, inspirado em Frank Zappa e o então cultuado disco Sgt.
Pepper's Lonely Hearts Club Band dos Beatles misturado a elementos brasileiros, como samba, chorinho,
baião. Quando lançado, o disco não obteve sucesso de público e nem de crítica.
Foi abandonado à própria sorte até mesmo pela gravadora, cujos executivos tanto
no Brasil como na matriz, nos Estados Unidos não gostaram do resultado final.
Com isso, não houve investimento em divulgação do trabalho nas rádios e
programas musicais da época.
Capa do disco de 1971, do grupo que não vingou. |
Muitas lendas cercam esse
disco que traz 11 faixas intercaladas por vinhetas. A principal delas diz que
Raul, Sérgio, Edy e Míriam gravaram as músicas às escondidas, à noite, sem que
ninguém na CBS soubesse e que por esse motivo, Raul Seixas, então um
bem-sucedido produtor da gravadora, teria sido demitido. No entanto, segundo Edy
Star, único sobrevivente dos quatro artistas, o trabalho foi profissional e
feito com o conhecimento da gravadora. E Raul não foi demitido. Tanto que no
ano seguinte, em 1972, produziu o compacto Diabo no Corpo, de Míriam Batucada,
e o LP de estreia da cantora Diana, na própria CBS. Raul só saiu da gravadora
meses depois desse último trabalho, sendo contratado pela RCA Victor.
Anos
1970: Auge e Repercussão Nacional
Em 1972, Raul Seixas decidiu
participar do Festival Internacional da Canção, onde foi convencido por Sérgio
Sampaio. O cantor compôs duas músicas, "Let Me Sing, Let Me Sing",
defendida pelo próprio Raul e "Eu Sou Eu e Nicuri é o Diabo",
defendida por Lena Rios & Os Lobos.
Ambas chegaram à final, obtendo sucesso de critica e de público. Rapidamente,
Raul foi contratado pela gravadora Philips. Na época, ele também se interessou
por um artigo sobre extraterrestres publicado na revista A Pomba e tem o seu
primeiro contato com o escritor Paulo Coelho, que mais tarde, se tornaria seu
parceiro musical.
No ano de 1973, Raul
consegue um grande sucesso com a música "Ouro de Tolo" no álbum Krig-ha,
Bandolo!, o primeiro álbum solo do cantor e compositor, gravado e
lançado pela Philips (atual Universal Music) em 21 de julho de 1973.
A música possui uma letra quase autobiográfica, mas que também debocha da
Ditadura e do "Milagre Econômico". O título Krig-ha, Bandolo! faz
referência a um grito de guerra do personagem Tarzan, conhecido à época nas
revistas em quadrinhos.
Capa do disco de 1973. |
O mesmo LP, continha outras
músicas que se tornaram grandes sucessos, como: "Metamorfose
Ambulante", "Mosca na Sopa" e "Al Capone". Raul Seixas
finalmente alcança grande repercussão nacional, graças a divulgação da imagem
do cantor como ícone popular. Porém, logo a imprensa e os fãs da época, foram
aos poucos percebendo que Raul não era apenas um cantor e compositor.
O álbum inicia com uma
gravação de Raul cantando "Good Rockin' Tonight" aos nove anos de
idade, e também foi o primeiro de Raul, em parceria com o escritor Paulo Coelho.
Ainda em 1973, Raul resolveu
homenagear algumas músicas clássicas do rock americano e brasileiro no disco Os 24
Maiores Sucessos da Era do Rock.
Raul sustentava que o real
rock 'n' roll tinha acabado em 1959, com a ida de Elvis Presley para o exército.
Em 1973, resolveu homenagear o que julgava ser o "rock verdadeiro" e
dispôs-se a regravar uma seleção de sucessos do gênero, pinçados entre
clássicos americanos de Little Richard, Carl Perkins, Ronnie Self, The
Platters, Neil Sedaka, e brasileiros como Eduardo Araújo, Celly Campello,
Roberto e Erasmo Carlos
Capa original do disco, também de 1973. |
Raul foi, no entanto,
proibido pela gravadora de assinar seu nome no disco de covers, pois ela achou
que o álbum poderia prejudicar as vendas de Krig-ha, Bandolo!. A
solução foi creditar o álbum a uma certa banda chamada Rock Generation, com o nome de Raul presente apenas na contracapa,
como diretor de produção.
O álbum não teve qualquer
tipo de divulgação e acabou inicialmente sendo esquecido nas lojas, porém com
os sucessos posteriores de Raul, alcançando grandes vendagens, a gravadora
Philips acabou por divulgar melhor o trabalho.
Capa do mesmo disco acima, de 1975, que Raul não gostou. |
Em 1975, o álbum reapareceu
no mercado em nova versão: tinha uma nova capa (um retrato de Raul assinado por
Luiz Trimano), um novo título (20 Anos de Rock), uma ordem de
faixas diferente e alguns aplausos e assobios entre as faixas para dar a
impressão de que o disco era ao vivo. As alterações não agradaram Raul.
Houve outro relançamento em
1985, desta vez intitulado 30 Anos de Rock. No release que
acompanha este novo relançamento, o jornalista Ayrton Mugnaini brinca:
"Aguardem a edição intitulada 10 Mil Anos de Rock."
A MZA Music relançou o álbum
em 2001, sob a direção de Mazzola. Segundo ele, essa reedição foi a forma exata
que Raul Seixas concebera em 1973.
No ano de 1974, Raul Seixas
e Paulo Coelho criaram a Sociedade
Alternativa, uma sociedade baseada nos preceitos do bruxo inglês Aleister
Crowley, praticamente repetindo o chamado Livro
da Lei. O cantor foi levado pelo escritor a conhecer uma ordem filosófica
baseada na Lei de Thelema,
desenvolvida por Crowley.
A Sociedade Alternativa, com sede alugada, papel timbrado e
relatórios mensais, chegou a anunciar a aquisição de um terreno em Minas
Gerais, para a construção da Cidade das
Estrelas, uma comunidade onde a única lei era: “Faz o que tu queres, há de
ser tudo da lei.” Em todos os seus shows, Raul divulgava a Sociedade Alternativa com a música de mesmo nome.
Paulo Coelho e Raul, na Sociedade Alternativa. |
A obsessão de Raul Seixas e
Paulo Coelho em construir “uma verdadeira civilização thelêmica”, evidentemente,
trouxe problemas com a Censura. A letra da música "Como Vovó já
Dizia" composta pelos dois, teve de ser mudada. Logo no show de
lançamento, a polícia apreendeu o gibi/manifesto "A Fundação de
Krig-Ha" e o queimou como material subversivo. A Ditadura, então, através
do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) prendeu Raul e Paulo,
pensando que a Sociedade Alternativa fosse um movimento armado contra o
governo.
"Veio uma ordem de
prisão do Exército e me detiveram no Aterro do Flamengo. Me levaram para um
lugar que não sei onde era. Imagine a situação: estava nu, com uma carapuça
preta. E veio de lá mil barbaridades”. (Eu li essa entrevista. Segundo o
próprio Raul, em entrevista nos anos 80 para a revista abaixo, ele recebeu
choque elétrico nos testículos, para confessar algo que não fez). “Tudo para eu
dizer os nomes de quem fazia parte da Sociedade
Alternativa, que, segundo eles, era um movimento revolucionário contra o
governo. O que não era. Era uma coisa mais espiritual. Preferiria dizer que
tinha pacto com o demônio a dizer que tinha parte com a revolução. Então foi
isso, me escoltaram até o aeroporto." — Raul Seixas sobre o exílio
ocorrido em 1974, em uma entrevista publicada na revista Bizz, em março de 1987.
Depois de torturados, Raul e
Paulo foram exilados para os Estados Unidos, com suas respectivas esposas,
Edith Wisner e Adalgisa Rios. Muitas histórias são contadas sobre a estadia de
Raul Seixas nos Estados Unidos, como seu encontro com John Lennon, mas ninguém
sabe ao certo se são verdadeiras.
No entanto, o LP Gita
gravado poucos meses antes faz tanto sucesso, que forçou a Ditadura a trazê-los
de volta para o Brasil. Gita é o álbum de maior sucesso da
carreira de Raul Seixas, com 600 mil cópias vendidas, rendendo ao cantor seu
primeiro Disco de Ouro. Recém-chegado do exílio, Raul posa para a capa do disco
vestido de guerrilheiro com uma guitarra vermelha, numa provocação a Ditadura
Militar, que o forçou a viver nos Estados Unidos.
Capa do disco de 1974. |
Acompanhado de Paulo Coelho,
Raul compôs no álbum alguns de seus grandes sucessos, como "Gita"
(inspirada num livro sagrado hindu com mais de 6.000 anos, o Bhagavad Gita), "Sociedade
Alternativa" (inspirada na obra de Aleister Crowley) e "Medo da
Chuva", além de canções que contam apenas com sua autoria, como "O
Trem das 7" e "S.O.S.".
Em meio à gravação de Gita,
Raul Seixas e Paulo Coelho foram convidados a compor a trilha sonora da novela
da Rede Globo de televisão O Rebu, também lançada em álbum de mesmo
nome. Ainda neste ano, Raul separa-se de Edith, que vai para os Estados Unidos
com a filha do casal, Simone.
Em 1975, Raul Seixas casa-se
com Glória Vaquer, e grava o LP Novo Aeon, onde compôs junto com
Paulo Coelho, uma de suas músicas mais conhecidas, "Tente Outra Vez",
que seria creditada juntamente com Marcelo Motta, por quem eram discipulados na
Astrum Argentum (AA).
Este álbum não alcançou o
mesmo sucesso de Gita, sendo considerado um fracasso comercial, pois vendeu
menos de 60 mil cópias. Apesar disso, canções como "Tente Outra Vez",
"A Maçã", "Tú És o MDC da Minha Vida" e "Eu Sou
Egoísta" fazem de Novo Aeon, um dos discos mais
célebres de Raul, e atualmente, um dos mais queridos pelos fãs.
Capa do disco de 1975. |
Neste disco, surgem outros
parceiros nas composições das músicas além de Paulo Coelho, como Cláudio
Roberto e Marcelo Motta. Glória Vaquer, sua segunda esposa, assina a música em
inglês "Sunseed", sob o pseudônimo de Spacey Glow.
Novo Aeon
está incluído na lista da revista especializada Rolling Stone entre os 100 melhores discos da música brasileira
ocupando a 53ª posição.
Ainda em 1975, Raul lê um
manifesto e canta a Sociedade Alternativa
no documentário Ritmo Alucinante,
que foi um festival de rock realizado no Rio de Janeiro, gravado no álbum
Hollywood Rock, lançado no mesmo ano. Em 1976, Raul supera a má-vendagem do
disco Novo Aeon com o álbum Há 10 Mil Anos Atrás.
Raul Seixas lançou em Há 10
Mil Anos Atrás, algumas canções de temática mística como "Canto
Para Minha Morte" e "Ave Maria da Rua". O disco traz alguns dos
sucessos do cantor como "Meu Amigo Pedro", "Eu Também Vou
Reclamar", além da faixa-título que dá nome ao disco. Também traz uma
segunda versão da música "As Minas do Rei Salomão", que aparece no
álbum Krig-ha, Bandolo!.
Capa do disco de 1976. |
Jay Vaquer, amigo e músico
de Raul, além de irmão de sua segunda mulher, Glória Vaquer, assina duas faixas
do disco, que é quase todo creditado a Raul e Paulo Coelho. Neste mesmo ano,
nasce sua segunda filha, Scarlet. Chega então ao fim, o seu contrato com a
gravadora Philips e sua parceria com
Paulo Coelho, que seria retomada em Mata Virgem, embora continuassem
amigos (ou inimigos íntimos).
Jay Vaquer, ainda coletou
material para fazer um novo disco, Raul Rock Seixas, que diziam ser um
álbum feito de resto de gravações, mas na verdade a história era outra. Raul
escolheu as músicas, e Jay começou a fazer os arranjos. Porém, antes de Raul
Seixas e Jay terminarem de mixá-lo devido à suas ausências por causa dos shows,
a Philips lançou o disco sem avisá-los, sob o selo da Fontana/Phonogram, mixando-o por conta própria. Segundo Jay, isso
prejudicou o trabalho que ambos haviam planejado anteriormente, destruindo o
LP, porque finalmente seu nome estava num LP de Raul como produtor, arranjador,
e guitarrista, e seu trabalho foi muito mal representado.
Capa do disco de 1977. |
Este álbum mantém a mesma
fórmula do álbum Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock, lançado quatro anos
antes, contendo interpretações de grandes sucessos do rock, com músicas de
Chuck Berry, Paul Anka, Gene Vincent, Elvis Presley, Eddie Cochran e Little
Richard. No final do álbum Raul fez um inusitado medley de “Asa Branca” com “Blue Moon Of Kentucky”.
Em 1977, nasce no Brasil uma
nova gravadora, a WEA, subsidiária da
Warner Bros., que se interessou em
contratar Raul Seixas. Por volta deste período, intensificou-se a parceria com
o amigo Cláudio Roberto, com quem Raul compôs várias de suas canções mais
conhecidas. Juntos, realizaram o LP O Dia Em Que A Terra Parou. O disco
traz um de seus maiores sucessos, "Maluco Beleza", além de outros,
como "Sapato 36", "No Fundo do Quintal da Escola",
"Que Luz É Essa?" (com participação de Gilberto Gil) e a canção que
dá nome ao álbum.
Capa do disco, em gravadora nova, também de 1977. |
No disco, há duas incursões
pelo funk nas faixas "De Cabeça-pra-Baixo" e "Tapanacara"
(acompanhado pela Banda Black Rio). O
álbum fez sucesso de público, mas a crítica não gostou. Foi dito que não
mantinha o mesmo nível dos trabalhos anteriores.
Naquele final de década as
coisas começaram a ficar ruins para Raul. A partir do ano de 1978, começou a
ter problemas de saúde devido ao alcoolismo lhe causando a perda de 1/3 do
pâncreas. Raul passou alguns meses numa fazenda na Bahia, para se recuperar da
pancreatite. Ele separou-se de Glória, que, assim como Edith, também voltou aos
Estados Unidos, levando a filha Scarlet.
Neste ano, conheceu Tania
Menna Barreto, com quem passou a viver. Lançou o LP Mata Virgem que contou
com a volta de Paulo Coelho, porém, ambos chegaram a conclusão, de que essa
parceria já não tinha mais como dar certo.
Capa do disco menos rock que Raul produziu, de 1978. |
O disco foge um pouco do rock and roll característico do cantor,
contando com ritmos como baião, forró e música caipira. Além disso, a má
divulgação atrapalhou as vendas do disco e a crítica também não ajudou.
No ano de 1979, Raul separou-se
de Tania. Começa então, a depressão de Raul Seixas junto com uma internação
para tratar do alcoolismo. Conhece Angela Affonso Costa, a Kika Seixas, sua
quarta companheira. Lançou seu último LP com a WEA, Por Quem Os Sinos Dobram,
cujo título foi inspirado no filme homônimo baseado em livro de Ernest
Hemingway, que trouxe alguns clássicos da obra de Raul Seixas, como "O
Segredo do Universo", e a faixa título, "Por Quem Os Sinos
Dobram". Raul assinou todas as músicas com um novo parceiro, o amigo argentino
Oscar Rasmussen.
Capa do disco de 1979. |
O álbum foi composto numa
época conturbada da vida do cantor, depois do fim de seu segundo casamento, e
após um episódio que lhe rendeu aparições nas páginas policiais, depois que um
homem foi encontrado assassinado em seu apartamento. Este álbum, assim como o
anterior, não fez muito sucesso na época. Por conta disso, Raul Seixas deixa a
gravadora WEA e parte para a Discos CBS.
Bem galera que está
acompanhando minhas postagens, por aqui encerro a segunda parte da história de
Raul “Maluco Beleza” Seixas.
Maluco, místico, visionário,
seja qual for o rótulo a ser dado a esse que foi o precursor do rock no Brasil,
Raulzito foi pioneiro em sua jornada. Surpreendeu muitos com suas letras
revolucionárias. Para os militares eram músicas malditas, para seus fãs,
perfeitas obras-primas.
Fiquem com mais de Raul “Raulzito”
Seixas em:
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