Salve
galera que está curtindo o Blog Opinião do Véio! A história dessa banda que se
segue abaixo mudou o mundo musical, seu jeito de ver a música, sua forma de
criar e inovar através da experimentação e da audácia de seus integrantes.
Nessa parte, comentarei sobre a criação daquela que seria a marca registrada na
vida dos integrantes do Deep Purple e
a música que marcaria a trajetória da banda em seus concertos e uma música que
não pode deixar de ser tocada em nenhum show.
Conquistando
o mundo
O passo seguinte na
experimentação do Deep Purple seria
gravar um disco de estúdio feito nas mesmas condições de uma apresentação ao
vivo. Todos juntos, num mesmo ambiente, criando e gravando juntos como nas
longas jams instrumentais que eles
faziam no palco. Eles já tinham algumas músicas quase prontas: "Highway
Star" começou a ser criada dentro de um ônibus, quando um jornalista
perguntou como eles criavam suas músicas. Blackmore disse: "Assim", e
começou a tocar um riff agitado. Gillan
entrou na farra e começou a improvisar uma letra: "We're on the road,
we're on the road, we're a rock'n'roll ba-and!". Em
setembro, a primeira versão do que seria "Highway Star" já estava
começando a ser experimentada no palco e no programa de TV alemão Beat Club. É
dessa apresentação que vem o clipe de "Highway Star" em que Blackmore
usa um chapéu de bruxo e Gillan balbucia palavras sobre Mickey Mouse e Steve
McQueen. "Lazy" é outra canção que começou a ser testada no palco
antes de ir ao estúdio.
Em dezembro de 1971, eles
haviam achado o local certo para criar e gravar esse disco: Montreux, na Suíça,
onde até hoje ocorre um famoso festival de jazz. O melhor lugar para gravar
seria o grande cassino da cidade, onde tradicionalmente havia apresentações
musicais. O cassino ainda não estava liberado para o Deep Purple quando eles chegaram. Faltava uma última apresentação,
de Frank Zappa, para encerrar a temporada. O grupo, então, foi assistir ao
show. Zappa sempre foi um inovador do rock, e naquela apresentação em especial
ele usava um sintetizador de última geração. No meio do show, alguém põe fogo
no cassino. A música pára. Zappa grita: "FOGO! Arthur Brown, em
pessoa!" e orienta os presentes a deixar o cassino calmamente. Em
entrevistas, Roger Glover conta que todos realmente estavam calmos, o
suficiente para que ele próprio ainda pudesse dar uma olhada no sintetizador
antes de sair do prédio. Enquanto isso, Claude Nobs, que até hoje organiza o
Festival de Jazz de Montreux, corria de um lado para o outro para tirar alguns
espectadores de dentro do cassino.
O grupo foi transferido para
o Grande Hotel de Montreux. No inverno, ele estava vazio, era frio e todos os
móveis estavam guardados. Eles estacionaram do lado de fora a unidade móvel de
gravação dos Rolling Stones, puxaram alguns fios, instalaram confortavelmente
seus instrumentos nos corredores do hotel e começaram a ensaiar. O resultado é
que até hoje todos os shows do Deep
Purple contêm ao menos quatro das sete músicas do disco Machine
Head, lançado em 1972.
Capa do sexto álbum de estúdio, lançado em 1972. |
Curiosidades
sobre o álbum Machine Head:
• A canção “Never Before”
foi concebida para ser o single
principal do álbum, porém não teve êxito comercial e continua sendo uma das
mais esquecidas.
• Curiosamente, os
integrantes da banda não esperavam que “Smoke On The Water” seria a canção mais
famosa do álbum e que se tornaria uma das músicas mais conhecidas do rock até
hoje.
• “When a Blind Man Cries”,
canção aclamada pelos fãs e muito presente nas apresentações ao vivo, acabou
não sendo lançada no álbum original, simplesmente porque Ritchie Blackmore não
gostava da música.
• Todo o material do disco
foi feito ao vivo, sem o uso de overdubs
e o que foi ouvido depois não foi retocado.
A famosa foto da ''fumaça sobre a água", no incêndio do cassino em Montreaux. |
A história inteira da
gravação é contada em poucas palavras na música "Smoke On The Water",
a última a ser gravada no disco. Blackmore havia criado um riff que não fora
usado, apelidado então de "durrh-durrh". Não havia letra. Então veio
a ideia de escrever sobre o que acontecera na gravação do disco. Gillan afirma
que eles estavam num bar quando Roger Glover escreveu num guardanapo o título
da música (que significava "fumaça sobre a água", uma boa descrição
da fotografia que um jornal publicou no dia seguinte ao incêndio). Glover diz
que a expressão lhe surgiu em um sonho e que Gillan lhe respondeu: "não vai
rolar; parece nome de música sobre drogas, mas nós somos uma banda que
bebe". Nenhum deles apostava que passaria mais de trinta anos tocando
"durrh-durrh" toda noite, tamanho o sucesso que a música alcançou.
Apesar de ter sido gravada em dezembro, ela só entrou no setlist em 09 de
março, num show na BBC. Essa primeira apresentação consta de In
Concert 1970 – 1972.
Capa do sétimo álbum de estúdio da banda, produzido em 1972. |
O ano de 1972 é
movimentadíssimo, e nele o Deep Purple
chegou pela primeira vez ao Japão, onde foi gravado seu mais famoso disco ao
vivo, Made In Japan. Na Itália, o grupo também preparava a gravação
de Who
Do We Think We Are. O ritmo de trabalho da banda, porém, custou caro a
eles. Por diversas vezes, membros do grupo ficaram doentes. O guitarrista Randy
California chegou a substituir Blackmore em um show, e Roger Glover substituiu
Gillan em outro. Os relacionamentos entre os membros, especialmente entre
Gillan e Blackmore, também não iam bem. Em dezembro, Gillan entregou seu pedido
de demissão, avisando que deixaria o grupo no final de junho de 1973, dando aos
empresários e aos colegas seis meses para decidir o que fazer do grupo.
O álbum ao vivo, de 1972. |
Tempo
de mudanças
Em 29 de junho de 1973, na
segunda viagem do grupo ao Japão e após um show impecável, em que Jon Lord
incluiu o "Parabéns a Você" para Paice em seu solo de teclado (era o
aniversário do baterista), Ian Gillan volta ao palco e avisa que seria o último
show do Deep Purple com aquela
formação. Durante o show, não havia nenhum outro sinal de desgaste. Em
retrospecto, o silêncio de Gillan na hora de cantar o verso "no matter
what we get out of this" ("não importa o que possamos tirar
disso") em "Smoke On The Water" podia indicar que tudo o que ele
poderia tirar daquilo já havia acabado. Glover também deixou o grupo, passando
a se dedicar à produção, no departamento artístico da Purple Records, a
gravadora do grupo.
O primeiro novo integrante
recrutado para o Deep Purple, logo
após o fim da fase II, foi o baixista Glenn Hughes, que cantava e tocava baixo
no grupo Trapeze. A dupla habilidade
empolgou Blackmore e Lord, mas ele não seria deixado sozinho nos vocais. O
plano do Deep Purple era buscar a voz de Paul Rodgers (ex-Free, ex-Bad Company).
Após um primeiro contato, ele pediu um tempo para pensar e decidiu continuar
com sua banda na época, o então Free.
Enquanto seguia a busca pelo novo vocalista, Blackmore e Hughes iam se
conhecendo e tocando juntos. O que se tornaria o blues "Mistreated",
sem a letra, foi composto nessa época.
A hipótese de tocar o grupo
com apenas quatro membros foi cogitada, mas a ideia de ter dois vocalistas
falou mais alto. Com essa ideia nas ruas, os empresários do Deep Purple não paravam de receber fitas
de novos artistas. Uma delas fora enviada por um rapaz de vinte e um anos, que
cantava desde os quinze anos: David Coverdale. Sua banda e o Deep Purple já haviam cruzado caminhos
em novembro de 1969, num show na Universidade de Bradford, quando Gillan e
Glover haviam acabado de entrar para o Deep
Purple. O teste de Coverdale ocorreu em agosto de 1973. Durante seis horas,
eles tocaram material do Deep Purple e canções mais conhecidas, como "Long
Tall Sally" e "Yesterday". Quando Coverdale foi para casa, o
restante do Deep Purple saiu para
beber e decidiu: era o gordinho mesmo (nos meses seguintes, os empresários da
banda lhe dariam alguns remédios para afinar a aparência).
Em 09 de setembro, o novo
grupo se trancou por duas semanas no Castelo de Clearwell para compor.
Empolgadíssimo, Coverdale (cuja experiência de palco era apenas com a gravação
de demos) escreveu quatro letras diferentes para a música que seria
"Burn". Uma delas se chamava "The Road". No dia 23, um dia
depois de Coverdale completar vinte e dois anos, a fase III foi apresentada à
imprensa inglesa. Em novembro, foi gravado o disco Burn, novamente em
Montreux, com a mesma unidade móvel dos Rolling Stones com que foi gravado Machine
Head. A nova equipe estrearia no palco em 08 de dezembro, na Dinamarca.
Era a estreia da fase III do Deep Purple.
O disco só sairia em 1974.
Capa do oitavo álbum de estúdio da banda, produzido em 1973. |
O som da nova formação era
marcado pela maior velocidade e técnica de Blackmore na guitarra e pela tensão
entre os dois cantores. No estúdio, os duetos eram perfeitos. No palco, Hughes
punha a trabalhar toda a potência de seus pulmões sempre que podia, muitas
vezes chegando a intimidar Coverdale. O baixista e cantor também acrescentou à
receita do Deep Purple uma boa pitada de tempero de soul e funk (que Blackmore
aceitou inicialmente a contragosto) por entender que apesar de este estilo
estar nas paradas de sucesso da época, não fazia parte, até então, dos elementos
constitutivos do som do Deep Purple.
Em 06 de abril de 1974, o
grupo se apresentou na Califórnia, Estados Unidos, para uma plateia de duzentos
mil pessoas. Era o festival California Jam, que duraria doze horas e seria
liderado pelo Deep Purple. O show, e
particularmente o mau humor de Blackmore com o fato de ter de começar a tocar
antes do anoitecer com câmeras em cima do palco, ficou famoso por ser
explosivo: o guitarrista destruiu uma câmera em funcionamento com sua guitarra
e, não contente, explodiu um amplificador. A silhueta do guitarrista em frente
às chamas do amplificador é uma das cenas mais poderosas de toda a iconografia
do rock.
Ritchie Blackmore explode seu amplificador no festival California Jam, em 1974. |
Trinta anos depois, Josh
White, diretor de filmagens do evento, lembrou de como ele pode tê-lo induzido
a isso: "Eu falei com ele na noite anterior. O Deep Purple fez um ensaio
técnico, e eu perguntei se ele ia quebrar a guitarra dele. E Richie disse:
'sim, talvez. Sei lá, que merda'. Ele estava meio puto com várias coisas que
não tinham nada a ver comigo. E eu disse: 'Veja, se você for quebrar a
guitarra, privilegie a câmera. Vou fazer uma bela filmagem e vai ficar genial'.
E ele privilegiou bem a câmera, gerando US$ 8 mil de prejuízo."
Capa do nono álbum de estúdio da banda, produzido em 1974. |
A terceira formação do Deep Purple acabaria um ano depois de
California Jam, em 07 de abril de 1975, uma semana antes de Blackmore completar
trinta anos de idade. Era a turnê de lançamento do disco Stormbringer na Europa.
Com ainda mais balanço soul/funk, o disco desagradou bastante a Blackmore. Ele
já tinha algumas ideias na cabeça, e ao sair já tinha uma nova banda formada: o
Rainbow. Restava ao grupo o dilema
entre continuar sem Blackmore, o criador de todos os riffs que tornaram o Deep
Purple famoso, ou partir para outra, aproveitando que o grupo era um dos mais
lucrativos de toda a história do rock.
Capa do décimo álbum da banda, produzido em 1975. |
Decidiram continuar,
convidando o guitarrista Tommy Bolin, o primeiro norte-americano a fazer parte
do grupo. Com essa formação (fase IV), gravam o disco Come Taste The Band,
ainda mais suingado. A turnê é complicada, um tanto devido aos problemas de
Bolin e Hughes com drogas. Em vários shows, como o registrado em Last
Concert In Japan, Bolin não conseguia tocar porque seu braço estava
anestesiado de drogas. Garotos talentosos, de vinte e poucos anos, ao entrar em
uma máquina de fazer dinheiro na indústria do entretenimento, correm o sério
risco de perderem o senso de proporção. Foi o que ocorreu na época.
Capa do álbum ao vivo na Ásia, produzido em 1977. |
Bolin tinha dois agravantes:
insegurança e baixa auto-estima. Tudo isso apesar de ter gravado belíssimos
discos solo, ser considerado um gênio da guitarra e ter tocado com magos do
jazz como o baterista Billy Cobham. Bolin não suportava ser comparado pelos fãs
aos carismáticos antecessores que teve em grandes grupos de rock. O Deep Purple era a segunda vez em que ele
substituía um grande guitarrista. Anteriormente, havia tocado na James Gang. No Deep Purple, ele chegou a discutir com a plateia por algumas vezes,
durante apresentações.
Bem galera que está curtindo
a história do Deep Purple. Como
sempre comento em carreiras que são sucesso, “nem tudo são rosas e perfumes”,
ou seja, o sucesso é apenas um lado da moeda. Existe a parte tensa da
convivência dos integrantes, as discórdias, as desavenças, as doenças. E
garanto a vocês, eles são apenas seres humanos tentando conviver em um mundo que
cobra um preço alto para quem está sobre os holofotes.
Fiquem com mais de Deep Purple em:
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