Olá galera que curte o Blog
Opinião do Véio! É uma satisfação tê-los aqui novamente, acompanhando a terceira
parte da história deste que é uma das figuras mais importantes do rock
brasileiro.
Eu estava pesquisando para o
Blog e fiquei surpreso com a notícia que está no último parágrafo antes de
minha despedida, na segunda parte. Como a censura não permitia que soubéssemos de
tudo, alguma coisa passou em branco.
Embora eu já fosse
adolescente nessa época, e já fazia papel de “DJ”. com o toca discos de meu
futuro cunhado nas festas da empresa em que ele conheceu minha irmã, eu jamais
lembraria de ter ouvido essa notícia, por isso separei o final da segunda
parte, para explicar melhor agora.
Época
Conturbada
“Quando o Raul saiu da Philips, estava mal. O contratei para a Warner e todo mundo foi contra”, diz o
produtor Marco Mazzola, que comprou um apartamento para Raul na época. “Vi que
não podia fazer mais nada quando o levei para mostrar a casa nova e ele estava
mais interessado em fazer carreiras de cocaína. O Raul era um cara careta, mas
se deixou levar por essa coisa de ver disco voador. Ele confiou demais no Paulo
Coelho. Eu falava para ele pôr o pé no chão.”
Mazzola se esmerou no LP,
convidando o guitarrista americano de jazz Lee Ritenour para solar em ‘Maluco
Beleza’ e Gilberto Gil para arranjar ‘Que Luz É Essa?’. “O Raul achava que
Caetano Veloso e Gilberto Gil não gostavam dele. E hoje a gente vê Caetano
falando bem dele, mas na época não era assim!”, lembra o produtor.
Kika Seixas, que viria a ser
mulher de Raul, trabalhava no departamento de imprensa da Warner, disse: “O
Elvis Presley andava com a ‘máfia de Memphis’, uma rapaziada estranha. E Raul
cismou que era como ele, e fazia o mesmo. Quem cuidava das contas dele,
inclusive Imposto de Renda, era um motorista!”, espanta-se Kika.
Raul e Kika. |
“Mata Virgem (1978), no
qual retomava a parceria com Paulo Coelho, teve um quase-hit, ‘Judas’. “Por causa da retirada de parte do pâncreas, Raul
precisou parar de beber. Isso o deixou deprimido e ele passou a faltar a
compromissos”, relata Kika. “Um dia, precisei ligar para o Raul para chamá-lo
para o estúdio, e a pessoa que atendeu, que morava com ele, disse que não o via
há dias nem sabia se ia poder dar o recado”, recorda ela.
“Naquela época, a Warner foi para terceiro lugar nas
paradas e eu comecei a ter outras funções lá dentro”, lembra Mazzola. “Me vi
completamente sem forças para ajudar o Raul, um grande talento. Mas ele não
queria ser ajudado.”
Por Quem Os Sinos Dobram,
último álbum da fase, saiu em 1979 e trazia Raul compondo ao lado do amigo
argentino Oscar Rasmussen, com quem dividia apartamento. É tido por fãs como
seu álbum mais fraco. Raul costumava agregar a seu redor os tipos mais
estranhos e sombrios, numa versão tropical da “máfia de Memphis” que
acompanhava Elvis Presley.
Em 1979, ele teve a
inacreditável ideia de contratar uma equipe de caratecas argentinos como
seguranças. Tanto ele e Oscar quanto os seguranças varavam as noites em festas
regadas a álcool e drogas das mais variadas. Numa transação obscura entre os
caratecas e traficantes, o faixa preta Hugo Amorrotu foi assassinado a tiros,
dentro do apartamento de Raul, num evento que demonstra o grau de descontrole
que sua vida havia tomado. “Foi o ápice de uma fase de total desligamento do
amor à vida”, lamenta Mazzola.
Anos
1980: Altos e Baixos
Em 1980, assina novamente
contrato com a CBS (desta vez como cantor) lançando mais um álbum, Abre-te
Sésamo, que contém alguns sucessos.
O disco fez algum sucesso na
época, com as músicas "Aluga-se" e 'Rock das Aranha" e vendeu
razoavelmente bem. Contudo, ambas as músicas foram censuradas.
"Aluga-se" era uma forte crítica sobre a relação do governo
brasileiro com outros países, principalmente Estados Unidos. Já "Rock das
'Aranha’", foi censurada devido à sua letra, sexualmente explícita.
Capa do disco de 1980. |
Raul chegou a declarar anos
mais tarde que a canção é um plágio de "Killer Diller" do cantor
Jimmy Breedlove. A música "Angela" foi feita em homenagem à
companheira de Raul, Kika Seixas. O disco também inclui uma música de seu pai,
Raul Varella Seixas, "Minha Viola".
Em 1981, nasce a terceira
filha, Vivian, fruto de seu casamento com Kika.
Logo após o lançamento de Abre-te
Sésamo, em 1980, a Discos CBS passaria por uma mudança em sua diretoria
o que ocasionou em uma piora nas relações com o músico. Assim, o novo disco
seria muito mal divulgado e pessimamente distribuído, o que incomodou o cantor
baiano. A gota d'água veio em meados do ano seguinte, com a proposta da
diretoria para que Raul gravasse um disco em homenagem ao casamento do príncipe
Charles com a princesa Diana: o cantor pediu demissão.
Com isso, Raul enfrentou
grandes problemas para a continuidade de sua carreira, como a dificuldade para
marcar shows. Esses problemas levavam o cantor a abusar do álcool e das drogas,
levando a um círculo vicioso de abusos e dificuldades para trabalhar. Assim,
apesar de conseguir alguns públicos significativos, como as 180 mil pessoas no
Festival de Verão de Santos, na praia do Gonzaga, em fevereiro de 1982, em bons
shows, às vezes o cantor passava por situações difíceis.
Um episódio que ilustra bem
esse período é o show na cidade de Caieiras, em 15 de maio de 1982. Raul se
dirigiu à cidade acompanhado de seu empresário e sete músicos, para encerrar
uma Feira de Folclore local. Entretanto, chegando lá, o responsável pela
programação impediu o início do show alegando que havia poucas pessoas no local
(cerca de 300) e que os músicos deveriam aguardar a chegada de mais gente. Com
isso, o show só iniciou-se após a meia-noite. Apesar de uma duração programada
de 50 minutos, a apresentação durou apenas meia hora devido à animosidade do
público.
Após o fim do show,
policiais entraram no camarim e levaram o cantor sob a acusação de ser um
impostor. Raul sofreu maus tratos e ficou detido na delegacia até às 5 horas do
domingo, quando seu empresário conseguiu providenciar os seus documentos. As
versões conflitantes sobre o fato não permitem saber, até hoje, se o cantor
estava drogado ou alcoolizado.
Neste período, Raul tentou
vender para diversas gravadoras o projeto de um disco chamado Nuit,
uma opereta-rock que versaria sobre a deusa da noite na religião Thelema,
composto em parceria com sua companheira na época, Kika Seixas, sem sucesso.
Apenas em janeiro de 1983,
Raul recebeu um telefonema de João Lara Mesquita, diretor de uma pequena
gravadora, a Eldorado, pertencente ao mesmo grupo que controlava o jornal O
Estado de São Paulo, convidando-o para gravar um disco pela sua gravadora. Como
Raul já havia sido recusado por todas as grandes gravadoras multinacionais que
atuavam no Brasil, tendo até ouvido de um executivo que ele estava
"vacinado contra Raul Seixas", a proposta foi aceita na hora.
As canções do disco foram
compostas durante o período de dois anos em que Raul esteve sem gravadora,
diversas delas fazendo parte do projeto inacabado de um disco independente, Nuit.
Com o contrato da Eldorado, Raul separou diversas canções que tinha composto (algumas
parte do projeto não terminado e outras com temática distinta) e entrou nos
estúdios da gravadora, em São Paulo, já em janeiro, para gravar o disco, com
produção de seu pianista e maestro, Miguel Cidras.
Em fevereiro, o trabalho em
estúdio foi finalizado, juntou-se um cover de Arthur Crudup gravado ao vivo em
26 de fevereiro de 1983, em show na Sociedade Esportiva Palmeiras, e o disco
passou os meses seguintes em pós-produção. Próximo da data de lançamento, Raul
foi convidado por Augusto César Vannucci, diretor da Rede Globo, para interpretar um personagem no especial infantil Plunct, Plact, Zuuum. O cantor compôs
uma canção inspirado por sua filha com Kika, Vivian, que tinha dois anos.
Raul como o Carimbador Maluco. |
Ao ficar sabendo da
participação de Raul no especial, que seria exibido em 03 de junho de 1983, a
Eldorado quis incluir aquela música no disco. Como a primeira tiragem já estava
pronta, foi feito um compacto às pressas para ser distribuído (em forma de
encarte) juntamente com o disco. Nas
tiragens seguintes, bem como no relançamento em CD, a canção já figuraria como
a sétima faixa no disco.
O álbum começa com
"D.D.I. (Discagem Direta Interestelar)", um "puro Raul Seixas de
boa safra" em que Deus reclama com os homens pelas besteiras que estão
fazendo e estariam comprometendo a Sua "reputação". "Não Fosse o
Cabral" é uma versão para "Slippin' and Slidin'" de Little
Richard que quase foi censurada. Wanderléa divide os vocais com Raul na faixa
"Quero Mais", uma mistura de reggae, baião e xaxado. "Segredo da
Luz" (remanescente de Nuit) foi considerada a balada mais bonita do disco,
na qual homens e mulheres brilham como estrelas.
"Eu Sou Eu, Nicuri É o
Diabo" é uma canção defendida pelos Os Lobos no VII Festival Internacional
da Canção e que "conserva uma deliciosa ingenuidade em suas brincadeiras
com sílabas". "Capim Guiné" é uma moda sertaneja composta por
Raul em parceria com Wilson Aragão. "Babilina" é uma versão de
"Bop-a-Lena", de Ronnie Self, com letra "pornô-kitsch". A
última canção é um belo tributo à Arthur "Big Boy" Crudup gravada ao
vivo em um show no ginásio da Sociedade Esportiva Palmeiras em 26 de fevereiro de
1983, que Raul canta com a "energia de um adolescente".
Raul Seixas,
também conhecido como Carimbador Maluco, foi o décimo
primeiro álbum de estúdio de Raul, lançado em 26 de abril de 1983 pela
gravadora Eldorado (distribuído nacionalmente pela EMI-Odeon) e, bem divulgado
e distribuído, vendeu mais de 100 mil cópias, rendendo o segundo disco de ouro
da carreira de Raul. O disco teve três canções inicialmente vetadas pela
censura ("Quero Mais", "Babilina" e "Não Fosse o
Cabral"), mas, após explicações, elas acabaram sendo liberadas.
A divulgação acabou se
beneficiando do lançamento do musical infantil da Globo que trazia "Carimbador Maluco" como uma das
principais faixas e a participação de Raul cantando a música caracterizado como
o personagem título. Em dezembro, Raul apresentou-se, inclusive, no especial de
Natal da emissora, no estádio do Maracanã, em companhia da Turma do Balão
Mágico e dos Trapalhões, cantando esta canção. Além disso, a canção “Coração
Noturno” fez parte da trilha sonora da novela Louco Amor.
Capa do disco de 1983. |
O álbum foi bem recebido
pela crítica na época de seu lançamento, especialmente por significar a volta
de Raul Seixas após quase três anos sem lançamentos discográficos e poucos
shows realizados no período. As apresentações de Raul vinham recebendo bons
públicos e seu "marketing pessoal" de uma nova fase mais família,
longe do álcool e das drogas, com Kika Seixas e sua filha pequena sempre
presentes nas entrevistas concedidas, parecia surtir efeito em gerar mídia
positiva.
Essa mudança na carreira foi
bem sucedida, inicialmente, com a mudança de cidade (Rio de Janeiro para São
Paulo) e uma nova postura: não mais a imagem de profeta, mas uma tentativa
progressiva de apresentar-se como um roqueiro clássico e, ao mesmo tempo, como
uma espécie de antagonista em relação aos artistas que começavam a ficar
famosos pelo "novo rock" que se fazia no Brasil. Assim, Raul
respaldava-se cada vez mais no nome "Raul Seixas" e na postura de
representante do "verdadeiro rock", do qual os novos grupos seriam
mero "pastiche".
O disco representa o início
da última fase da carreira de Raul, com a mudança pra São Paulo, as
dificuldades para manter a carreira, a luta contra os seus demônios internos (álcool
e drogas) e os problemas de saúde (especialmente, a pancreatite crônica causada
pelo alcoolismo) e a mudança na autoimagem. O cantor tentava se estabelecer
como um representante do "verdadeiro rock", em oposição ao
"BRock" que surgia naquela época.
Ao mesmo tempo, buscava
desvincular-se da imagem de "profeta" que tanto sucesso tinha trazido
para ele na década anterior. Entretanto, a sua "fase família" não
duraria muito: a volta do álcool e das drogas levaria Raul a se separar de sua
mulher, Kika Seixas, e, eventualmente, a parar de apresentar-se ao vivo por um
longo período. Hoje, o disco é visto como um dos últimos lampejos da carreira
de Raul Seixas.
Em 1984, grava o LP Metrô
Linha 743 pela gravadora Som Livre, com a maior parte das composições
em parceria com sua companheira Kika Seixas e uma das faixas, “Mas I Love You
(Pra Ser Feliz)”, em parceria com seu guitarrista Rick Ferreira, que teve
participação em todos os discos de Raul, a partir de Gita.
Lançado em julho de 1984, Metrô
Linha 743, pela gravadora Som Livre, com gravações realizadas entre janeiro e
abril de 1984 nos Estúdios Sigla, em São Paulo e no Rio de Janeiro. O disco
representou a volta do cantor baiano a uma grande gravadora, após ter lançado
Raul Seixas, no ano anterior, com grande sucesso de público e crítica, pelo
pequeno selo paulista Gravadora Eldorado.
Capa do disco de 1984. |
As canções tinham começado a
ser compostas logo após a finalização do trabalho anterior e estavam
praticamente prontas quando os trabalhos em estúdio começaram. A demora de quatro
meses para realizar o disco foi motivo de cobranças da gravadora, bem como o
custo total do álbum (muito caro para a época).
O cantor justificou o valor e a demora dizendo
que foi difícil conseguir a simplicidade que ele queria nos arranjos e no
disco. Assim, paradoxalmente, o álbum ficou simples e caro. Outro problema que
o cantor experimentou e que impactou na demora da produção foi a não liberação
da canção "Mamãe Eu Não Queria", vetada pela censura para execução
pública (shows e reprodução no rádio ou na TV), mesmo após recurso da
gravadora.
Raul assumiu não só a
concepção musical, como também a visual. Em entrevistas, o cantor dizia que
buscou um álbum conceitual, não só nas faixas musicais, mas também no projeto
gráfico do disco (todo em preto e branco), o que remeteria não só a Alfred
Hitchcock, como também aos anos 50. Por isso, a escolha de fotos em preto e
branco de diversos momentos da carreira de Raul (cedidas pelo seu fã-clube Raul
Rock Club) para adornar o encarte. Além do mais, o título remetia ao ano em que
Raul sofreu com a censura e foi convidado a sair do país, 1974. E o próprio ano
de lançamento do álbum, bem como a letra da canção título, fazia referência à
obra de George Orwell, Nineteen Eighty-Four.
Novamente, assim, participou
do musical infantil da Rede Globo que ocorreu em março daquele ano, com a
música "A Geração da Luz", que fez parte da trilha sonora de Plunct,
Plact, Zuuum... 2, sequência do musical de sucesso do ano anterior (que também
contava com uma canção de Raul Seixas) sem, entretanto, repetir o sucesso.
Continuava, também, a
apresentar-se como um "roqueiro clássico" em oposição aos artistas do
novo rock brasileiro, o BRock. Assim, fazia gozações com o que via como a
falsidade de tais grupos e a sua natureza midiática, negando a existência de um
verdadeiro "movimento de rock". Raul seria, assim, um representante
do "verdadeiro rock" que não se deixava dobrar pelas novas modas,
como a new wave.
O disco foi lançado em julho
de 1984 pela Som Livre, mas, apesar
da quantidade de dinheiro investida e da qualidade do trabalho, as vendas
decepcionaram o cantor e a gravadora. O cantor atribui as dificuldades à falta
de divulgação por parte da gravadora e ao lançamento concomitante de Ao
Vivo - Único e Exclusivo por sua antiga gravadora, a Gravadora Eldorado. O artista alegava
que a sua gravadora não lançou nenhum compacto para promover o disco e que não
quis gravar um clipe musical, segundo as suas intenções. Também,
responsabilizava a Eldorado por ter
lançado um disco ao vivo no mesmo mês em que saiu o seu álbum de estúdio pela
gravadora carioca.
A capa do disco que a Eldorado lançou junto com o da Som Livre. |
O disco foi bem recebido
pela crítica especializada, mas as suas vendagens (por diversas razões) ficaram
aquém das expectativas do artista e da gravadora, levando ao término do seu
contrato. Com as dificuldades para agenciar shows que Raul passou a
experimentar com o agravamento de sua doença e dos seus problemas com álcool e
drogas, ele pararia completamente de fazer shows em dezembro de 1985, ficando
em uma espécie de ostracismo.
Uma curiosidade comentada
por um youtuber, ao observar recentemente sobre o lançamento em inglês de “Gita”,
“I Am”, de 1984: " Quando Raul ganhou seu primeiro Disco de Ouro com
"Gita", em 1974, as pessoas imaginavam que com a afirmação "eu
sou", contida na música, Raul referia-se a ele mesmo e acorriam a seus
shows esperando que ele pudesse fazer milagres, como um verdadeiro Messias. Na
verdade, a música se refere ao princípio criador do universo, que a tudo
comanda”.
Bem galera, por aqui encerro
esta que é a terceira parte sobre a história do Carimbador Maluco, Raul Seixas.
De maluco beleza a
consumidor de drogas, de pai de família a caso de polícia, Raul realmente teve
muitos altos e baixos e seu estado de saúde só agravou sua situação, pois nem
fazer shows estava conseguindo fazer mais, o que deveria ser seu “ganha pão”.
Falar de Raul Seixas sem
falar em muitas esposas, drogas e rock
and roll, seria clichê demais. Sua vida foi uma mistura explosiva de
misticismo, muito álcool e muita insensatez. Não tenho minha vida certinha, mas
não faço nada parecido com meus ídolos. Sou careta por natureza, não condeno
ninguém, mas sei ser feliz sem precisar de subterfúgios. A música é a minha
droga, e basta!!
Fiquem com mais de Raul “Maluco
Beleza” Seixas em: