Últimas postagens

terça-feira, 27 de outubro de 2015

O pop e o rock no Brasil - Anos 80

Salve galera, sejam bem vindos ao Blog do Véio. Vamos continuar nosso passeio musical, agora pela ri- quíssima década de 80, a ''era de ouro'' para a música brasileira. Para quem viveu essa década em sua plenitude, sabe muito bem o que eu vou falar, pois foi uma época em que começaram a des-pontar as rádio de F. M. (Frequência Modulada). 

Lembro-me como se fosse hoje, eu agarradinho com meu rádio de pilha (isso era muito comum naquela época), ouvindo rádios de A. M. (Amplitude Modulada). Vou explicar rapidamente, dando um exemplo de como funcionam as diferentes frequências. 

Num exemplo só: vamos dizer que a A. M. é uma frequência que é retransmitida, via aquelas antenas enormes e que ''viajam'' eletricamente no espaço entre o solo e as nuvens, sendo enormemente castigadas em dias de chuva, dando aquela chiadeira toda. Agora, as rádios estão modernas, o sinal é via satélite, mas acontece essa mesma interferência em dias chuvosos e de muitos raios, criando muita estática. E, ainda, algumas rádios diminuem suas potências, à noite, para economia de energia.

Nas rádios de F.M., o sinal ''viaja'' no espaço, em linha reta, não chegando nem na metade da distância que daria entre o solo e as nuvens (dizem que as nuvens ficam à uma distância de 3 mil metros do solo), portanto, este sinal viaja limpo, sem interferência, mas, quando encontra um obstáculo na frente (uma montanha), ele se perde, sendo só sintonizadas estações de rádios próximas. Por isso essa enorme diferença de qualidade. 
Agora temos tudo via Internet, não podemos mais reclamar. Mas vamos voltar ao assunto que me traz aqui, por isso falei nas rádio, pois na década de 80 ''fervilharam'' novidades no mercado fonográfico brasileiro.

Anos 80

Para a música, os anos 80 foram uma década de criatividade, onde misturava-se o romantismo, com o bom humor, outras vezes se protestava, enfim, havia uma variedade incrível de estilos e tipos diferentes de artistas. Era um enorme prazer em ouvir as F.M.s da vida, porque havia muitas bandas e cantores novos, despontando para o sucesso. Alguns de um sucesso só, outros, em atividade até hoje.

Os anos 80 foram, também, a era dos poetas Cazuza e Renato Russo, que nos presentearam com pérolas que curtimos até hoje, embora, infeliz-mente não os tenhamos mais juntos de nós. Artistas com ''A'' maiúsculo, que deram sua contri-buição à boa e nem sempre valorizada música brasileira.

Diz-se que esta década popularizou o rock, levando essas músicas para as F.M.s e aproximando o ritmo das massas, coisa que os anos 70 não conseguiram fazer. Por falta de espaço nas mídias e por isso mesmo com relativa (pouca) divulgação, o rock era considerado de pouca vendagem e pouco público para assistir um show. 

Eu sempre ouvi falar, que o rock era um gênero exclusivo da elite, na época, pois eram poucos que tinham acesso e sabiam como encontrar os discos nas poucas lojas especializadas. O movimento dos anos 80 só se aproveitou da onda do estilo musical, rock, que já havia se consagrado nos anos 70, no mundo todo.

Nos anos 80, houve a chamada ''explosão'' do rock brasileiro. Claro que isso só foi possível, em parte, à criação de casas de show, que divulgaram, e muito, bandas iniciantes. Posso citar duas casas de show que divulgaram essas bandas: Circo Voador, no Rio de Janeiro e Aeroanta, em São Paulo.

Em 1982, no chamado ''verão do rock'', quem pri-meiro se apresen-tou nessas casas e fizeram muito su-cesso, porque isso eu lembro de ter lido na revista Bizz, foi a banda Blitz  (''Você Não Soube Me Amar''), João Penca & Seus Miquinhos Amestrados (''Lágri-mas de Crocodilo'') e Eduardo Dusek (''Rock da Cachor-ra'').

Antes de me aprofundar nas bandas e cantores que surgiram (e até terminaram) na década de 80, devo falar de um apresentador, misto de palhaço e ''entertainment'', chamado de Chacrinha. Abelardo Barbosa foi o apresentador que mais lançou bandas e cantores, e, podem falar o que quiserem, esteve sempre antenado com o que estava despontando na música brasileira. 

Abelardo ''Chacrinha'' Barbosa
Quem vê seus vídeos na Internet, acredita que ele seja uma pessoa sem noção, quase um louco. Mas, ao contrário, ele sem-pre estava conec-tado com o que havia de melhor tocando nas rádios. Chacrinha foi para música brasileira, o que um caça talentos é para qualquer artista ou modelo. Posso afirmar, sem medo de errar, que sem Chacrinha, não teríamos escutado (e assistido) nem metade dos talentos que o pop rock brasileiro aplaudiu.

Lembro muito bem, de nas tardes de sábado assistir a seus programas (que se vistos hoje, parecem uma piada e ainda chamariam de brega), mas conheci muitos artistas ali naquele programa, como: Lobão, Marina Lima, Titãs, Kid Abelha & Seus Abóboras Selvagens (era assim que eles se chamavam), Os Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Ney Matogrosso (agora em carreira solo), e muitos outros.

Kid Abelha original: George, Paula, Bruno e Leoni
Houveram muitas bandas (listarei algumas, descul-pem, mas foram tantas), mas vou citar nomes como: Sempre Livre, Lobão e os Ronaldos, Titãs (como citei acima), Metrô, Magazine (de Kid Vinil), Blitz, Herva Doce, Biquini Cavadão, Capital Inicial, Hanói Hanói, Hojerizah, Grafitti, Ed Motta & Conexão Japeri, Gang 90 e as Absurdettes e outros tantos grupos. Na parte dos cantores (as), posso citar: Léo Jaime, Lobão, Ritchie, Lulu Santos, Marina Lima, Cazuza (após a saída do Barão), Ed Motta (agora solo), Alice Pink Pank e May East (ex-Absurdettes) entre tantos outros.

Vou regionalizar o nascimento de algumas bandas e cantores: no Rio de Janeiro surgiram Léo Jaime, Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens, Uns e Outros, Lulu Santos, Ritchie e Lobão. Em 1981, o Festival Punk, em São Paulo, revelou bandas como: Inocentes, Cólera e Ratos de Porão (do João Gordo). Além desse festival, surgiram, também, bandas como Titãs, Ultraje a Rigor (ainda com Edgard Scandurra, que depois tocou no Ira!), RPM, Zero, Ira!, Metrô e Magazine. Tínhamos ainda em São Paulo, os independentes (bandas ou cantores sem gravadora) Smack, Fellini (lembro que os críticos falavam bem deles, nas revistas), Mercenárias, Akira S e as Garotas Que Erraram e Voluntários da Pátria.

Em Brasília, algu-mas bandas que surgiram, depois se transferiram para o Rio de Janeiro ou São Paulo, como: Aborto Elétrico (Renato Russo participou), depois virou Capital Inicial (se fixou em São Paulo) e Plebe Rude.

Do Rio Grande do Sul, meu estado natal, vieram: Engenheiros do Hawaii, Nenhum de Nós, TNT, Garotos da Rua, Cascavelletes, Taranatiriça, Os Replicantes, Os Eles, Bandalieira, DeFalla, entre outras. Na Bahia, chegou ao sucesso o Camisa de Vênus, de Marcelo Nova.

Banda Sepultura na década de 80.
No heavy metal, ori-ginou-se em Minas Gerais, a banda bra-sileira de maior su-cesso, o Sepultura, que toca o estilo trash metal, com ''letras'' em inglês. Uma vez, li na revista Bizz, que os países onde se ouvia Sepultura não entendiam nada do que eles cantavam. Embora os títulos sejam em inglês, a língua em que eles cantavam era pura invenção dos inte-grantes. Claro, que isso no tempo em que Max Cavalera ainda fazia parte da banda.

Outra banda que conseguiu algum destaque no exterior, mais precisamente no Japão, foi a paulista Viper, que também tinha as letras em inglês. Dessa banda saiu o vocalista André Matos, que participou de outras duas grandes bandas: Angra e Shaman.

De algumas bandas saíram muitos artistas em carreira solo. Do Lobão e os Ronaldos, saiu Lobão, do Barão Vermelho, saiu Cazuza (como já citei acima), do grupo Gang 90 & As Absurdettes, saíram para carreira solo Mae East e Alice Pink Pank (como também já citei) e da formação original de João Penca & Seus Miquinhos Amestrados, saíram Eduardo Dusek e Léo Jaime.

Deixei para esta parte, aquilo que os críticos acreditavam ser ''o quarteto sagrado''. Vou explicar e comentar sobre as quatro badaladas bandas dos anos 80 que têm fôlego de gato e que seriam quatro ainda, não fosse a morte do vocalista de uma delas (já sacou, não é?). Vou citar uma a uma com um breve histórico.

Os Paralamas do Sucesso - carioca do Rio de Janeiro, mas seus integrantes haviam se conhecido em Brasília (por isso as pessoas diziam que eles faziam parte da ''turma de Brasília'') e começaram tocando na garagem da casa da avó de Bi Ribeiro, um dos integrantes. 

Os Paralamas do Sucesso: Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone.
No início, seu estilo misturava rock com ska e reggae e mais tarde agregaram ritmos latinos. Durante o ensaio, o que se ouvia não eram músicas sérias. Tanto que o nome do grupo foi escolhido porque eles acharam engraçado. 

Escreveram a música "Vital e Sua Moto", tendo como ''protagonista'' um ex-baterista,Vital Dias, e mandaram uma fita com essa e mais 3 músicas para a Rádio Fluminense. Esta música foi muito tocada durante o verão de 83, e os Paralamas tiveram a primeira grande apresentação, ao abrir para Lulu Santos no Circo Voador.

Durante sua carreira, houveram muitos altos e baixos, como no início. Gravaram seu primeiro disco que ficou esquecido pela mídia. Só engrenaram em 1984, com o disco O Passo do Lui, que trouxe uma sequência de êxitos como ''Óculos'', ''Meu Erro'', ''Me Liga'', ''Ska'' e ''Romance Ideal''.

Essa combinação de sucesso popular mais a aclamação da crítica especializada, acabou levando o grupo a tocar no Rock in Rio, no qual o show dos Paralamas foi considerado um dos melhores. De lá até hoje, são 11 álbuns de estúdio, 7 álbuns ao vivo, 8 álbuns internacionais, 4 coletâneas oficiais e 10 DVDs lançados no decorrer de sua carreira.
Está em atividades até hoje, mesmo após o acidente que deixou Herbert Vianna preso à uma cadeira de rodas, vítima de um acidente aéreo em que Herbert pilotava um ultraleve e perdeu sua mulher nesse episódio. 

Titãs - paulista, iniciaram sob o nome de Titãs do Iê-Iê, reduzindo mais tarde. Quando apareceram na mídia com seu primeiro sucesso ''Sonífera Ilha'', já assinavam apenas Titãs. No início, misturavam estilos como o new wave, o reggae e a MPB. No período de 1982 à 1984, nove integrantes formavam o grupo, só se tornando octeto por causa da morte do guitarrista Marcelo Fromer, atropelado por uma moto. Na época, chegou até se cogitar o fim do grupo, porém, eles decidiram seguir em frente. Como diz o ditado popular, ''A vida continua'', e eles prosseguiram. 

Titãs, na época de ''Sonífera Ilha''.
Curiosidade: os Titãs estavam insa-tisfeitos com o jeito de tocar bateria de André Jung e decidiram o subs-tituir, pois estavam admirados pela for-ma de tocar de Charles Gavin, ba-terista que estava, na época, ensai-ando com o RPM, e que, também, já havia feito parte da banda Ira! 

André Jung não ficou nem um pouco satisfeito em saber que seria substituído, pois já tinha feito planos de passar o ano novo, com a namorada, no Rio de Janeiro. Com a decisão da banda, André voltou para São Paulo e dois dias depois, já entrou para o grupo Ira! 

Outro músico que não ficou satisfeito, foi Paulo Ricardo, que só descobriu que o baterista tinha saído do RPM, quando assistiu um programa de televisão que mostrava a preparação dos Titãs para um show e ele estava lá, como novo integrante da banda, fato este, que deixou um clima tenso entre Paulo Ricardo  e Charles Gavin.

Barão Vermelho - banda carioca, surgida em 82, onde seus jovens integrantes aproveitaram a oportunidade porque um deles era filho de um produtor musical da Som Livre, no caso, Cazuza, e lançaram dois discos antes de alcançarem o sucesso. Eles podiam até ser promissores, mas as emissoras de rádio não queriam tocar suas músicas. Até que Ney Matogrosso gravou ''Pro Dia Nascer Feliz'', daí sim é que as rádios começaram a tocar a versão original do Barão. Na época, Caetano Veloso disse que Cazuza era um grande poeta e incluiu "Todo Amor Que Houver Nessa Vida'' no repertório de seu show. 

Barão Vermelho no começo: Guto, Frejat, Cazuza, Maurício e Dé.
A partir daí, o Barão Vermelho começou a ter o destaque que merecia e, devido à toda essa repercussão, foram convidados para gravar a trilha so-nora do filme Bete Balanço, um su-cesso de bilheteria. 

Em 1984, sua música já tocava em todo o país e eles aproveitaram o embalo para gravar o terceiro disco, Maior Abandonado, que ultrapassou as 100 mil cópias vendidas em apenas seis meses, uma dificuldade para a época, o que os levou ao convite para abrir os shows internacionais no Rock In Rio, em 1985. Depois de tanto sucesso, estava claro para todos, que a carreira da banda estava consolidada.

Mas como nem tudo são flores, Cazuza, começou a fazer uma mistura ''venenosa'' para sua vida. Começou a abusar do álcool e a injetar cocaína na veia, segunda a própria biografia autorizada dele e que, mais tarde virou filme. Por si só, isso já é perigoso e ainda, promiscuamente, fazia uso do compartilhamento de seringa. Na época, a Saúde Pública brasileira alertava sobre o risco de se contrair AIDS, tão temida nos anos 80, através do uso coletivo da mesma seringa.

Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza.
Cazuza tanto fez, que começou a não ir mais ensaiar e se atrasava regular-mente às grava-ções da banda. Ele já havia falado sobre sua vontade em seguir carreira solo para todos os integrantes do Barão Vermelho. Frejat o apoiara, contanto que Cazuza não abandonasse a banda. 

Sua saída foi bastante conturbada, sendo anunciado, inclusive, no final de um show. Isso abalou, e muito, a forte amizade que unia Frejat e Cazuza e que só veio a ser restabelecida anos mais tarde. Cazuza levou junto, com sua saída do Barão, algumas músicas que a banda já estava ensaiando para o próximo disco e as usou em seu disco solo.

O Barão Vermelho superou este forte baque em sua carreira e conseguiu prosseguir, diga-se de passagem, com bastante empenho e profissionalismo, embora tenha demora mais algum tempo para emplacar. Isso só aconteceu quando lançaram o disco Carnaval, em 1988, que estourou em vendagens quando ''Pense e Dance'' entrou para a trilha sonora da novela Vale Tudo, da Rede Globo, voltando a se firmar no cenário musical, agora com Frejat nos vocais.

Legião Urbana - não quero exagerar, mas talvez seja a mais influente banda dos anos 80. Fundada em 1982, em Brasília, após a saída de Renato Russo da banda Aborto Elétrico, que mais tarde, parte dos seus integrantes formariam o Capital Inicial.

Renato era uma pessoa muito culta, lia obras de escritores chamados ''cabeça'', e tudo isso foi adicionado ao seu jeito de escrever. Ele levava histórias simples, como ''Eduardo e Mônica'', que fala sobre a diferença de idade no relacionamento de um casal de amigos e ''Pais e Filhos'', que fala sobre o conflito entre gerações, onde filhos acham seus pais chatos, mas ele querem só protegê-los.

Legião no início: Renato Rocha, Renato Russo, Dado e Bonfá.
A banda terminou na década de 90, mais precisamente, em 1996, com a morte de Renato, mais tarde relatado em diversos meios de mídia, como causa principal consequências da AIDS, pois ele se recusara em tomar o coquetel de drogas que era oferecido, na época, e que ajudou muita gente a prolongar (alguns até hoje) suas vidas. Mais tarde, em uma próxima postagem, falarei somente a Legião Urbana.

Bem pessoal, por aqui eu encerro essa década maravi-lhosa para a música nacional. Me perdoem, mais uma vez, se eu esqueci alguma banda ou cantor (talvez, de sua preferência) mas, eram tantas, que haja memória para recordar de todas agora. 
Obrigado por mais essa visualização no blog e até a década de 90, próxima postagem, em breve. 

Autor: Carlos Alberto de L. Anchieta

Mais sobre os anos 80 em:
























































Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...